Na última quarta-feira (5), fiz uma coluna sobre o preocupante avanço da dívida do Grêmio, revelando um número mensal que assusta até os mais leigos no assunto. O vice-presidente do Conselho de Administração do clube, Eduardo Magrisso, visando esclarecer alguns pontos, me mandou um contraponto importante que faço questão de dividir com vocês neste espaço.
Além de dados financeiros que acalmam o torcedor, o dirigente coloca informações relevantes, como o impacto das SAFs no mercado, a compra de atletas em dólares e a explicação para o avanço da dívida em R$ 5 milhões mensais.
Confira a seguir alguns trechos do contraponto de Eduardo Magrisso:
“Com efeito, o Grêmio contabiliza uma fortuna de juros por mês, mas nem todas têm efeito caixa. Vou explicar a estrutura de capital do Grêmio e a origem desses juros.
PROFUT – são dívidas tributárias históricas, de 10, 20, 30, 40 anos, consolidadas no Profut, que montam em mais de R$ 100 mi, corrigidas por SELIC. Se considerarmos 1% ao mês, então temos mais de R$ 1 mi de juros dos 5 mi que tu falaste. Embora registradas contabilmente, estes juros em nada impactam em fluxo de caixa - uma vez que são liquidados (com a amortização principal) com recursos próprios oriundos da arrecadação da Timemania.
DÍVIDA 2013 – é uma dívida de 156 mi que o Grêmio tem contabilizado com a Arena, e tem origem no terceiro aditivo de 2013, e que somente se extinguirá sem pagamento em 2033. É também uma dívida contábil, que não impacta em fluxo de caixa, mas como é registrada em contratos a técnica contábil orienta o registro em balanço. Esta dívida corrige em IPCA + 10%. Se considerarmos 1% de juros ao mês, temos mais R$ 1,5 mi dos 5 mi que disseste.
Então, dos 5 mi, muito mais que a metade não provém desta gestão.
DÍVIDA BANCÁRIA - Quando assumimos em 16 de novembro/22, com 45 dias de antecedência ao que preconizava o estatuto, tínhamos zero em caixa, nenhum ativo vendável, e tivemos de tomar R$ 50 mi para fechar o ano de 2022 (que, repito, não era da nossa gestão). Para começar o ano de 2023, tomamos mais R$ 30 mi em janeiro. Hoje a dívida bancária do Grêmio está em 100 mi a um juro médio de 1,7 ao mês, que gera 1,7 mi de despesa financeira.
Houve um incremento dos juros desde 2022, por conta do cenário econômico, em relação ao qual nós, contribuintes e entidades, não temos qualquer influência.
DÍVIDA EM DÓLAR - O Grêmio não tinha ativos para revenda, tampouco tinha atletas para formar um time competitivo a partir do elenco que subiu para a série A: hoje tem. Compramos atletas para pagamentos em prestações semestrais em 4 anos, indexados pelo dólar. A subida do dólar reflete na despesa financeira. Nada obstante, o ativo, também cotado em dólar, protege o Grêmio desta variação. Se formos comparar o preço de compra dos atletas com a cotação do Transfermarkt podemos observar que o valor dos ativos do Grêmio praticamente dobrou, além do resultado esportivo que cada um desses ativos traz.
SAF e LFF - Diferente de 2/3 dos demais clubes da série A, o Grêmio não é SAF (que recebe dinheiro novo e não paga dívida antiga), nem vendeu seu futuro pelos próximos 50 anos. Dos grandes clubes, tirando Palmeiras e Flamengo, apenas Grêmio e São Paulo não são SAF nem LFF. SAF e LFF inflacionaram o mercado; Suárez era o 2º maior salário do futebol brasileiro em 2023 (atrás do Dudu); hoje não entraria dentre os 10 maiores.
Tudo o que descrevi aqui não é opinião; são fatos e de conhecimento de todos. Estes esclarecimentos foram todos prestados no Conselho Deliberativo, sendo avaliados pelo Conselho Fiscal e pelas comissões responsáveis, compostas por situação e oposição, onde todos fizeram seus comentários na mesma linha de oportunidades anteriores.”
Essa manifestação de Eduardo Magrisso esclarece uma série de situações importantes para o clube e para o torcedor. Futebol é assim. Transparência acima de tudo.