A diretoria do Caxias fixou em R$ 200 o preço dos ingressos para os torcedores do Grêmio, no jogo de sábado (16), no Centenário, pelas semifinais do Campeonato Gaúcho. Um valor totalmente fora da realidade do produto que apresenta e que merece um comentário muito além da crítica natural que se faz por qualquer tipo de abuso.
Os clubes de futebol vivem da paixão do seu torcedor. No modelo do futebol brasileiro, a existência dos nossos clubes é baseada neste torcedor, e a grandeza de cada uma das instituições depende, curiosamente, da quantidade deles. E aí está a questão.
Os nossos clubes são instituições centenárias, que foram construídos com base na inclusão e envolvidos em várias páginas de grandes emoções. E o estádio sempre foi uma peça importante nesta relação.
Por décadas, os estádios foram abertos a todas as classes sociais e essa lógica manteve sempre um aumento progressivo dos torcedores que consomem o produto. De um tempo para cá, no entanto, criou-se uma linha de raciocínio que elitizou o espaço nas arquibancadas, esquecendo a sua função na estrutura desenvolvida até este momento. A sensação que se tem é de que o "próximo" jogo é o pagador das finanças da próxima semana, e, por isso, nunca se imagina que essa conduta possa ter um reflexo perigoso no futuro dos clubes.
Viver uma decisão como a de sábado é levar uma memória dos clubes e do estádio por toda a vida. Ser impedido de ver isso pelo custo do ingresso é um tapa no rosto de cada apaixonado por Caxias e Grêmio. Em pouco tempo, esse torcedor vai procurar outro caminho para viver intensamente e integralmente as suas emoções, e isso, em razão dessa lógica, poderá ser longe de um campo de futebol.
O futebol, por este tipo de conduta, está perdendo a função de maior ferramenta de entretenimento popular do Brasil e se tornando um esporte de nicho. E essa lógica irá diminuir muito o tamanho dos clubes nas próximas décadas. Como disse no início, a força dos clubes passa pelo engajamento dos seus torcedores. Sem eles, tudo acaba.