O técnico Renato Portaluppi, na entrevista coletiva após a derrota para o Athletico-PR, voltou a ameaçar parte dos seus críticos. O técnico do Grêmio criou uma espécie de data para expor alguém (ou alguns) ao contexto da torcida em um tom de agredir.
Confesso que fico com medo após cada manifestação nesta linha. Um treinador do Grêmio não deveria ter, dentro do ambiente oficial do clube, espaço para ameaçar. Além disso, utilizando uma massa que o idolatra.
Não consigo encontrar algum argumento, nesta linha, que eu consiga defender. A camisa do Grêmio tem muitos poderes, mas o uso dela, necessariamente, precisa ser para construir. Não se pode usar o clube, ou sua multidão de fãs, para ameaçar, por mais individual que possa ser essa conduta.
E o atual Grêmio parece se prestar a isso. Uma instituição centenária não deveria aceitar um profissional usar a paixão dos seus seguidores para ameaçar. O mérito, correto ou não, fica diminuído a partir da repercussão.
Essa análise, por óbvio, é conceitual. Quando aceitamos esse tipo de debate estamos permitindo que tipo de conexão? Que tipo de relação estamos montando com os nossos torcedores?
A paixão por um clube de futebol é uma aliança de afinidades subjetivas, que, na maioria da vezes, nasce muito antes da nossa lucidez. Poucos torcem por um clube diante de algo reativo. Este primeiro amor é sempre algo lúdico, familiar, completamente infantil. Ninguém ama um time pelo ódio ou pelo conflito.
A maturidade nos amarga, nos transporta para o contraditório, mas a nossa relação com o futebol, felizmente, nasce antes de qualquer pensamento crítico. O amor por um time é como a memória afetiva do cheiro da casa dos nossos avós. É como caminhar pelo parque atrás de uma bola com a cabeça vazia. É como brincar com uma amigo imaginário quando tínhamos cinco anos. O amor por um time está além da nossa percepção. É o simples amor, pelo amor.
Por tudo isso, quando aceitamos, passivamente, a força perversa da ameaça no nosso mais puro sentimento, e utilizando a força estrutural da nossa paixão, nos submetemos ao maior dos medos: perder o encanto por esse insubstituível amor infantil.
O Grêmio tem conceitos fundamentais intocáveis e não pode permitir o uso deles para sentimentos tão ordinários como a ameaça. Estamos e somos muito maiores do que isso. O Grêmio é um clube de todos os pensamentos, de todas as tribos, de todos os mundos e não pode ser usado por ninguém, por mais ídolo que possa ser.