De agora até o fim de abril, quando o ritmo da colheita de soja se intensifica em todas as regiões do Rio Grande do Sul, problemas logísticos que historicamente acompanham a produção agrícola ficarão ainda mais profundos. Somente no porto de Rio Grande, destino de 50% da safra gaúcha, 2,3 mil caminhões descarregam toneladas do grão diariamente.
Para chegar até lá, motoristas enfrentam desde barro e poeira em estradas de chão batido até buracos e lentidão em rodovias pedagiadas ou abandonadas após o fim dos contratos de concessão. Neste ano, caminhões carregados com grãos produzidos principalmente no Centro-Oeste ajudam a complicar a situação das rodovias gaúchas.
Das 9,5 milhões de toneladas de soja previstas para chegar ao porto de Rio Grande até o fim da safra, 500 mil têm como origem Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins. Outras 300 mil toneladas de milho vindos desses mesmos Estados desembarcarão aqui para fugir das tradicionais filas quilométricas nos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR). O efeito, em um Estado que escoa quase 80% da safra por meio rodoviário, é imediato: aumento no preço do frete, em proporções que chegam a passar de 50%.
Na região de Cruz Alta, uma das principais áreas produtoras, onde o custo por tonelada transportada até o porto não passa de R$ 50 durante o ano, neste período ultrapassa R$ 80. E há quem nem reclame do preço, desde que consiga o transporte. Com a nova lei dos motoristas, empresas estão com dificuldade para encontrar profissionais capacitados, impedindo o aumento da frota de caminhões na necessidade demandada.
Saudada pelo impacto positivo que traz à economia gaúcha e no equilíbrio da balança comercial, a terceira maior safra de soja do país mais uma vez se destaca pelo volume - fruto de investimentos em tecnologia agrícola. Da porteira para fora, porém, os grãos continuam sendo freados pela ineficiência logística.