Hilton Silva do Nascimento, 58 anos, exerce uma atividade anônima dentro do Parque Germânia, no bairro Jardim Europa, em Porto Alegre. O produtor de eventos resgata gambás presos em lixeiras.
Natural de São Borja, na Fronteira Oeste, Nascimento vive desde 1983 na Capital. Há 11 anos, mudou-se com a esposa para a Rua Coronel João Corrêa, no Passo d’Areia. O endereço fica situado a poucos quarteirões do parque, onde costuma caminhar no seu tempo livre.
— Já tinha visto os gambás nas lixeiras. Então comecei a colocar gravetos dentro — afirma ele, que sofreu um acidente de trabalho em dezembro e perdeu parte do dedo polegar da mão esquerda.
Hilton explica que os galhos auxiliam os animais a sair de dentro dos equipamentos. Os mamíferos entram nas lixeiras em busca de alimentos. O resgatista estima já ter ajudado 20 gambás. Porém, três já foram retirados sem vida, possivelmente mortos em função do calor.
Quando vi aqueles animais morrendo de calor percebi que não dava para esperar mais um dia.
HILTON SILVA DO NASCIMENTO
Produtor de eventos
Nascimento caminha diariamente no Parque Germânia. Nas primeiras horas da manhã, acessa o portão 1, pega um graveto e começa a vasculhar nas mais de 200 lixeiras que existem no trajeto que percorre. Segundo conta, os gambás têm hábitos noturnos, por isso são encontrados em horários matutinos.
— Já fui no setor de Administração do parque e avisei que os gambás caem ali dentro e não conseguem escalar de volta. Por isso comecei a colocar os galhinhos para ajudar os animais — relata.
Desde janeiro, Nascimento executa esses resgates. Às vezes, ele abre com o auxílio de uma chave os equipamentos para retirar os bichos. Quem o vê em ação, mexendo nas lixeiras pode confundi-lo com algum catador. Ele revela preocupação com a situação dos gambás.
— Quando vi aqueles animais morrendo de calor percebi que não dava para esperar mais um dia — compartilha, dizendo que os equipamentos funcionam como "armadilhas".
Ele menciona que outros frequentadores do parque o avisam quando encontram gambás presos em algum lugar.
— Sinceramente, gostaria que isso fosse resolvido. Só tem que dar condições deles saírem — observa.
Associação responsável pelo parque desaprova ação
A Associação de Amigos do Jardim Europa (AAJE) – adotante do Parque Germânia – desaprova ações individuais de resgates feitas por frequentadores.
Conforme o presidente da entidade, Rui Gregório Back, não há muitas ocorrências com gambás presos em lixeiras no local.
— Ele (Hilton Silva do Nascimento) sai caminhando de manhã cedo quebrando pedaços de árvores, o que também não está certo, e colocando lá dentro para o bichinho sair. Não é bem assim uma boa ação — diz Back.
Segundo o presidente da AAJE, a equipe de jardinagem recebeu treinamento para retirar os animais dos equipamentos. Além disso, cita a existência de fiscalização da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus).
— Não é o ideal ficar quebrando galho de árvore para enfiar ali para o bicho subir. Não é a melhor ação. O correto é chamar a segurança que vai acionar a equipe de jardinagem — conclui.