Em algumas áreas do Rio Grande do Sul, como na Serra, por exemplo, faz mais frio. Outras, como a região de Pelotas, sofrem mais com a umidade. Na Fronteira Oeste, o problema é o calorão. Na quarta-feira (5), das 10 cidades mais quentes do Brasil, cinco ficavam na ponta oeste do Estado. Especialistas explicam que características climáticas e geomorfológicas condicionam a região a altas temperaturas.
Os municípios de Uruguaiana, Alegrete, São Gabriel e São Borja apareceram no ranking. O primeiro lugar ficou com Quaraí, com uma máxima de 42°C. O município de pouco mais de 23,5 mil habitantes já registrou temperaturas superiores aos 40°C outras três vezes nos últimos 15 dias, de acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
No dia anterior, terça-feira (4), a cidade registrou a maior temperatura da história do Estado: 43,8°C. Para termos de comparação, no mesmo dia, Porto Alegre, na Região Metropolitana, registrou máxima de 37,6°C. Essa foi a temperatura mais alta que os termômetros da Capital marcaram em 2025.
Por que é mais quente na Fronteira Oeste?
Alguns fatores podem influenciar diretamente a temperatura e a distribuição do calor na superfície. Segundos especialistas, além da onda de calor que atinge o Estado e dos efeitos do La Niña, detalhes climáticos e geomorfológicos explicam por que a Fronteira Oeste sofre mais com a condição.
— A Fronteira Oeste é mais próxima ao interior do continente, tendo menos interferência das massas de ar sobre o Oceano, tipicamente mais úmidas. Nessa época de verão, em que temos uma maior radiação solar incidente, devido aos dias mais longos, ganha força uma massa de ar quente no centro da América do Sul. Essa região mais próxima à fronteira com a Argentina e o Uruguai sente o impacto — explica Murilo Lopes, meteorologista da Universidade Federal de Santa Maria.
Ele acrescenta que o período de estiagem que o Estado vive também afeta a condição. Com menos umidade e com o ar mais seco, o aquecimento fica mais acentuado. A falta de chuva é uma característica típica do La Niña, que está em atuação desde o início do ano.
Sandro Petró, geógrafo, geólogo e pesquisador do Instituto Tecnológico Oceaneon, acredita que o fenômeno também seja um fator influenciador. Ele explica que a região do Paraguai e do norte da Argentina são mais quentes e o padrão de circulação atmosférico joga todo o calor na direção do oeste do Rio Grande do Sul.
— Mas a geomorfologia também explica, porque toda essa região corre junto com o Vale do Rio Uruguai, e é uma região baixa, em relação ao nível do mar. Essas regiões baixas onde têm calor, tem uma tendência de não dissipar esse calor. Isso ocorre com Quaraí, Uruguaiana, até São Borja. São áreas baixas onde o calor entra, permanece e não consegue se dissipar — afirma.
Os especialistas pontuam que as mudanças climáticas também podem ser um fator que deve ser levado em consideração, uma vez que os episódios de calor extremo tendem a ficar mais frequentes.