Referência em educação ambiental e na recuperação de animais recolhidos, o Mantenedouro São Braz, de Santa Maria, região central do Estado, teve seu processo para se tornar um zoológico postergado. A alteração, que ocorreria no final do ano passado, segundo Santos de Jesus Braz, idealizador e diretor do lugar, deverá ocorrer ainda no primeiro semestre de 2024
Um recomeço do zero, um “giro de 180 graus”. É assim que o diretor define o processo de mudança do espaço para zoológico. Braz acredita que a transição ocorra em março.
Criado em 1995, o antigo criadouro conservacionista se mudou para uma área rural na região e se expandiu, ampliando as espécies recebidas de 26 para as atuais 133. O local ganhou auditório e salas para receber escolas, aprofundando-se na educação ambiental.
— O projeto foi prosperando aos poucos e, ao longo desses 26 anos de legalidade junto ao Ministério do Meio Ambiente, nos foi pedido pela Sema (Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura, do Estado), órgão regulador, há dois ou três anos, a transformação para zoológico — conta Braz.
O problema, segundo ele, é que foi exigido um novo processo de regularização do local. Além das questões burocráticas na elaboração dos projetos solicitados, Braz cita que teve despesas, além da contratação de profissionais, como uma bióloga e duas veterinárias.
— Por exemplo, planta baixa do local, coleta de resíduos perecíveis e não perecíveis, a construção de ambulatório, setor de internação, cozinha, assim como um projeto arquitetônico com engenheiro civil também, de todos os recintos. Tudo de novo. É uma coisa astronômica a quantidade de papel, documentos, de uma coisa que já estava pronta — relata.
Santos Braz diz que cumpriu “99% do que a Sema pediu” e que deverá concluir a entrega dos documentos pendentes nos próximos dias. Assim, segundo ele, o mantenedouro estará apto para a visita técnica da pasta, que levará à oficialização da mudança.
Questionada sobre a situação, a Sema respondeu, por nota, que o processo para mudança para categoria de zoológico junto ao órgão iniciou em maio de 2023. “Foram solicitadas complementações pela Sema. O empreendedor solicitou mais prazo, que foi deferido. Então, agora está correndo esse prazo e a Sema está aguardando as complementações”.
A vistoria vai ser agendada após a entrega de toda a documentação, segundo a Sema, sem especificar data.
Pontos positivos e negativos
Atualmente, o Mantenedouro São Braz recebe recursos da sociedade, que apadrinha as iniciativas do local. A mudança para zoológico propiciará a possibilidade de apoio financeiro com verbas públicas.
— Trabalhamos desde 1995 triando, organizando e preparando animais para devolução à natureza e pagando do próprio bolso. Não recebemos nenhuma verba pública, estadual, municipal ou federal. Apenas recursos da comunidade e conseguimos ser vitoriosos, gloriosos em conseguir manter essa luz acesa. Talvez o único no Rio Grande do Sul — arrisca Braz.
Como ponto negativo, o idealizador do espaço entende que zoológico não tem o mesmo apelo como atração que já teve em outras épocas.
— As pessoas não curtem mais ver bichos presos. Mas como nós temos o caminho da educação, é uma coisa que vai dar certo. Tenho certeza plena, e a sociedade vai entender, de que vai ser um zoológico voltado à educação e não à exploração econômica e muito menos local para divertimento. Apenas para educação — garante.
O local deverá continuar recebendo animais resultantes de operações policiais, principalmente as realizadas pelo 2º Batalhão Ambiental da Brigada Militar de Santa Maria.
— Não tenho orgulho de ter todos esses animais aqui. Gostaria que todos estivessem na natureza. Mas o que eu já presenciei durante 26 anos é algo inacreditável. Da maldade da mão do homem, que esquece do tão importante que é a mãe natureza, os animais junto a nós —reflete Braz.