A chance de Torres viver um forte temporal na madrugada desta quarta-feira (4) por causa de um ciclone extratropical atuando na costa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul deixa a população alarmada. É um trauma do furacão Catarina, que causou estragos em 2004.
Naquele ano, os ventos passaram dos 150 km/h, muito superior ao que está previsto para este ciclone, cujas rajadas devem variar entre 60 km/h e 100 km/h. A previsão é de que o pior momento ocorra justamente à noite e nas primeiras horas do dia, quando a maioria estará descansando.
— Esse ciclone já está atuando na costa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Ele já causou bastante chuva e, nas primeiras horas de quarta-feira, quando se associa a uma frente fria, deve causar ainda mais — alerta a meteorologista Noele Brito, da Climatempo.
Como a chuva cai há dias em Torres, a prefeitura suspendeu as aulas de 17 escolas municipais nesta terça-feira (3), para evitar que os alunos ficassem vulneráveis. O dia, no entanto, foi de chuva amena, com apenas alguns pontos da cidade alagados.
Coordenador da Defesa Civil do município, Flávio Kaiser passou as horas monitorando o nível do Rio Mampituba para avaliar a possibilidade de transbordamento. Segundo ele, a chuva de Santa Catarina desceu para o território gaúcho e aumentou o nível do rio. Mas, se o tempo não piorar, não há grandes riscos nas próximas horas.
— O nosso solo não está encharcado. Se ficar assim, chovendo de quatro a cinco milímetros por hora, não teremos muitos pontos alagados. Só que, se cair 106 milímetros em poucas horas, como estão prevendo, pode complicar — disse.
O pior cenário é de casas alagadas e até destelhadas pelo vento, coisa da qual o pescador Juciano da Silva Silveira, 42, quer se livrar. Apesar da chuva fina que caía no fim da tarde, ele capturava as tainhas que pulavam aos montes com as ondas do mar — segundo ele, o peixe sempre vem mais abundante quando se aproxima um forte temporal, sinal que o deixou ressabiado.
Precavido, trocou os parafusos do telhado de amianto antes de sair de casa, por volta do meio-dia, para o caso de o vento bater com maior intensidade. É o medo de ver a casa destruída, pesadelo do Catarina que ninguém quer reviver.
— O pessoal fica alerta porque teve o Catarina, que pegou todo mundo de surpresa. Vi meus vizinhos aparafusando o telhado hoje, dei uma ajeitada no meu também. Alguns parafusos estavam frouxos, outros, enferrujados porque moro perto do mar. Já começamos a nos prevenir. Se der coisa muito grande, muita gente vai ficar sem telhado — afirmou Juciano.
Em Passo de Torres, conversas sobre temporais
Do outro lado da ponte, no município catarinense de Passo de Torres, um grupo de seis pescadores se aninhava em uma casa de madeira de frente para o Rio Mampituba. Bebiam cerveja e relembravam histórias de fortes temporais, como o que está previsto para as próximas horas. Era a tônica da conversa, já que há dias as autoridades de Torres vêm lembrando a população dos perigos do ciclone.
— Não sei se vai dar tudo isso que estão anunciando — duvidou o pescador Moisés Santos da Silva, 46.
As coisas podem mudar de uma hora para outra, como costuma acontecer no Litoral, lembrou a dona da residência, a pescadora Isabel Cristina Evaldt, 55.
— Aqui é tudo de repente. Quando a gente vê, o vento tá derrubando tudo — comentou.
Diante da observação da amiga, Moisés reconsiderou:
— Tem dia que dá sol de rachar, daqui a pouco o tempo vira e vem vento junto... Litoral é complicado — admitiu.
A prefeitura de Torres manteve as aulas das escolas municipais na quarta-feira (4). No caso de haver estragos, dois ginásios escolares foram organizados para receber a população desabrigada.
Segundo a Climatempo, a previsão é de que o ciclone se desloque para alto mar na quinta-feira (5) e se afaste ainda mais da costa até o final de semana, quando o tempo deve voltar a abrir e a se firmar no Rio Grande do Sul.