Após presenciar, no início do mês de fevereiro, uma das situações mais críticas da Lagoa do Peixe, em Tavares, no Litoral Médio, a reportagem de GZH flagrou nesta sexta-feira (11) a chegada da chuva, trazida pelo vento Sul, com rajadas de até 40km/h. A movimentação ajudou a espalhar ainda mais uma fina camada de água que começava a acumular sobre o que antes era terra seca – a estiagem consumiu mais de 50% da Lagoa durante este verão.
Em 30 minutos no local, foi visível o avanço de mais de 10 metros da água indo em direção à Estrada do Talhamar, no setor Costa. Aves migratórias foram vistas voltando a ocupar o espaço que estava desértico. E já há peixes nas partes onde a água se estabeleceu, segundo técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A Lagoa do Peixe que, na verdade, é uma laguna por ter ligação com o mar, tem um canal cuja abertura para o oceano não ocorre facilmente de forma natural. Ele só abre naturalmente se há um excedente de chuva ou quando ocorre algum tipo de maré de tempestade, com as ondas batendo, lavando a praia, tirando sedimentos e fazendo subir a maré em conjunto com a pressão de dentro do corpo d'água, que empurra a água para fora porque a lagoa está muito cheia.
Uma vez por ano, nos meses de inverno, máquinas das prefeituras de Tavares e de Mostardas, com o aval do ICMBio, abrem a barra da Lagoa do Peixe para a saída de água doce, evitando inundação de campos de gados localizados à margem da lagoa. A abertura também permite a entrada de água salgada, a troca nutrientes e o favorecimento da vida marinha dentro da lagoa – ajudando na proliferação de camarões e peixes.
Segundo o gestor do parque, Fabiano José de Souza, o ICMBio vê a situação da estiagem na Lagoa do Peixe como uma oportunidade de estudar a questão e de se estabelecer critérios técnicos para a abertura artificial da barra.
Em outras unidades do ICMBio, como por exemplo na APA da Baleia Franca, em Santa Catarina, a abertura anual da Lagoa de Ibiraquera é definida por um comitê que envolve especialistas e sociedade civil. Uma ação como esta ainda não existe na Lagoa do Peixe. Numa reunião em 3 de dezembro de 2021, envolvendo pescadores e o ICMBio, pescadores solicitaram o fechamento artificial da barra da Lagoa do Peixe como possível solução para a seca que já se avizinhava.
Veja fotos de fevereiro, quando a Lagoa do Peixe enfrentava o pico de uma forte seca
Sobre este ponto, o ICMBio, em nota técnica, declarou “a deposição artificial de areia, combinada com falta de chuvas e vento, iria facilitar o transporte desta areia, pois os ventos carregam mais facilmente a areia seca, que poderia ser levada, inclusive para dentro da lagoa, assoreando justamente o canal da barra. Também é preciso lembrar que uma parte da perda de água se deu por evaporação e penetração no fundo arenoso, na medida em que o nível do lençol freático baixou neste período de estiagem. O fechamento da barra com máquinas, possivelmente, teria pouco efeito em manter o nível de água na lagoa, e ainda poderia trazer consequências indesejadas de assoreamento do canal e região da barra”.
Pescadores receberão cestas básicas
Nas próximas semanas, 201 pescadores que atuam na Lagoa do Peixe, receberão 603 cestas básicas enviadas pelo Ministério da Cidadania, em parceria com ICMBio. Cada pescador terá direito a três unidades. A ação faz parte de um plano para auxiliar os prejudicados pela estiagem no local.