
Apaixonada por plantas, a bancária Flavia Marcuzzo Dotto, 44 anos, era considerada um pilar da família pela disposição em resolver problemas e por estar sempre disposta a "agregar e reunir as pessoas".
Definida como uma pessoa "iluminada, solar", Flavia foi sepultada no sábado (5) em Vale Vêneto, distrito de São João do Polêsine, na Região Central.
O velório, realizado no são paroquial, foi marcado pela presença de uma centena de pessoas, em uma reunião que teve choro, lembranças e até risoto de almoço em homenagem à pessoa conhecida pelo envolvimento com festas e eventos da comunidade.
Na sexta-feira (4), Flavia viajava no ônibus do Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria como aluna do curso de Paisagismo. O veículo saiu da estrada e tombou antes de chegar ao destino — o Cactário Horst, no município de Imigrante. Sete pessoas morreram e 26 ficaram feridas.
Casada e mãe de dois filhos — um adolescente de 15 anos e uma menina de 11 — Flavia estava realizando um sonho ao cursar Paisagismo.
— Era um sonho e uma segunda opção de vida. Porque ela foi a vida inteira bancária, mas ela tinha aquela vontadezinha lá no fundo do coração de ser paisagista. Era uma coisa que ela gostava. Ela chegava aqui todos os finais de semana (em Vale Vêneto) e ela pegava uma enxada, ela pegava uma pá e plantava um coqueirinho e, do nada, juntando o pouco que tinha ou o que trazia, ela tinha a capacidade de montar um jardim — contou a tia Estela Maris Dotto, 61 anos.
A bancária, formada em Ciências Contábeis pela UFSM, foi criada no distrito de apenas 500 moradores, mas morava em Santa Maria.
— O paisagismo era o hobby dela, era apaixonada pelas plantas. Há algumas semanas, havia feito o paisagismo do prédio onde morava — conta a prima Justina Inês Dotto Pivetta, 68 anos.
Flavia tinha o hábito de passar os finais de semana na companhia dos pais, em Vale Vêneto.
— Ela era iluminada, solar, gostava de estar com as pessoas, somou na vida das pessoas. Divertida, disposta. Todo final de semana ia para a casa dos pais. Tem um quiosque ao lado da casa, construíram churrasqueira, um espaço para agregar pessoas. Ela também cantava na igreja com a tia Estela, se envolvia nas festas da comunidade, organizava, vendia ingressos — disse a prima Simone Marcuzzo, 46 anos.
Segundo a prima, Flavia havia comprado um terreno em Vale Vêneto e tinha planos de fazer um viveiro. Simone também relembrou momentos da infância, na casa de avós, quando brincavam:
— Ela era destemida. Tinha coragem de entrar na despensa da vó e pegar grãos para a gente misturar com terra e pedra e fazer comidas de brincadeira. E queria muito ter um irmão, foi praticamente uma mãe para o irmão.
Na véspera da viagem, Flavia havia reunido os pais, o marido e os dois filhos em um jantar durante o qual revelou especial empolgação com a primeira viagem de campo que faria com a turma.
— Ela juntou a família nesse jantar como se fosse uma despedida — interpreta a tia Estela.
Para os familiares, Flavia vivia um momento de felidade e realização.
— Ela estava muito feliz nesse curso, muito feliz. E, assim, eu acho que ela morreu feliz, sabe? Não sei se pode se dizer assim, de morrer feliz, mas, enfim, ela estava muito feliz. Ela estava realizada — concluiu a tia.