
A comunidade literária de Rio Grande, no sul do Estado, está em luto. Um acidente de trânsito abreviou neste domingo (23) a vida da professora universitária, escritora, ensaísta e poetisa Aimée Tereza Gonzales Bolanõs, 81 anos.
Aimée caminhava pela Avenida Rio Grande, a principal do balneário do Cassino, quando uma caminhonete descontrolada subiu na calçada e a arremessou contra as grades de um edifício. A professora morreu no local, por volta do meio-dia.
O motorista foi submetido ao bafômetro, que registrou a presença de 0,51 miligramas de álcool por litro de sangue. Com 34 anos, o condutor foi preso em flagrante e conduzido à Delegacia de Polícia Civil, de onde segue para o presídio de Rio Grande.
Cubana de nascimento, Aimée era natural de Cienfuegos, no centro meridional do país caribenho. Formada em 1966 pela Universidad Central de Las Villas, morava no Cassino desde 1997, quando veio para o Brasil a convite do professor e romancista Carlos Alexandre Baumgarten.
À época, passou a lecionar na Fundação Universidade do Rio Grande como professora visitante, mas logo se naturalizou brasileira, prestou concurso e se tornou professora titular de Literatura Hispano-americana. Integrou o Comitê Científico Institucional da universidade e ajudou a reestruturar o currículo do curso de Literatura.
— Ela se orgulhava muito dessa relação com o Brasil, dizia “agora sou brasileira”. Tinha uma relação muito boa com os alunos e um domínio enorme do ofício — conta o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), professor Mauro Nicola Póvoas.
Aimée concluiu o pós-doutorado em Literatura Comparada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, enfocando em seu trabalho a temática feminina na poesia contemporânea latino-americana e na literatura cubana da diáspora. Em 2017, foi patrona da Feira do Livro da Furg, cujo tema oficial foi história de mulheres.
Escrevendo em sua língua pátria, sotaque que fazia questão de conservar, Aimée teve livros traduzidos para o português, inglês, francês e árabe. Somente pela editora da Furg publicou seis obras.
Aposentada, a professora seguia ativa nos círculos literários e universitários, escrevendo e dando aulas na pós-graduação. Encantava os alunos com seu rigor no ensino da teoria literária e na profusão com que ainda escrevia ensaios e publicava livros de poesia.
— Aimée participava de vários saraus, eventos, ministrava cursos de poesia. Nunca deixou de se dedicar à literatura — conta o também professor de Letras Antônio Carlos Mouesquer.
Aimée morava sozinha no Cassino, mas passava longas temporadas no Canadá, onde vivem o único filho e seus dois netos. Professora-adjunta da Universidade de Ottawa, sempre que chegava o inverno no Brasil viajava para aproveitar o verão canadense ao lado da família.
A Furg e a prefeitura de Rio Grande emitiram nota de pesar pelo falecimento da professora.