O diretor-presidente da EPTC, Marcelo Soletti, declarou-se "surpreso" com uma série de postagens feitas na internet pelo vereador Valter Nagelstein (PMDB), nas quais acusou agentes de trânsito de atuarem a serviço de uma "indústria da multa". Soletti garantiu que as acusações não correspondem à realidade.
Em entrevista a Zero Hora, Nagelstein disse ainda ter estranhado a reação de Nelson Marchezan (o prefeito reafirmou que infratores serão punidos), citando uma conversa com Soletti ocorrida na terça-feira, em que o dirigente da EPTC teria se comprometido com uma mudança "ideológica" dos agentes de fiscalização. Na entrevista a seguir, Soletti diz que tal mudança de postura não tem relação com deixar de autuar infratores:
Como o senhor recebeu as declarações feitas pelo vereador Valter Nagelstein?
Fiquei bem surpreso. O vereador Valter conhece o nosso trabalho, a proposta que a gente está trazendo para a EPTC, essa EPTC mais amiga do cidadão, mostrando toda a prestação do serviço, o engajamento nas questões de segurança. E também por ele me conhecer. Eu tenho uma ótima relação com diversos vereadores, e ele é um desses. Realmente fiquei bastante surpreso com a reação, com o desabafo em relação a essa autuação que ele sofreu.
O que surpreendeu o senhor exatamente?
Principalmente as acusações de que há uma indústria da multa, de que tem meta, de que há um incentivo talvez aos agentes, que teria de fazer uma CPI, uma série de situações. Isso não existe. Este ano a gente criou programas como Conhecendo a EPTC, que é a possibilidade de qualquer cidadão ir lá e passar um dia e conhecer como é o dia a dia da empresa, e Um Dia de Agente, em que tu podes passar uma manhã ou uma tarde com a fiscalização, vendo qual é a demanda que temos, porque a gente vai fiscalizar o estacionamento da área azul, vai fiscalizar área de idoso. A gente fez a questão do agente visível, o mais visível possível durante as ações de radar. Fizemos ações propositivas, educativas, de orientação, abrindo a porta da EPTC. Há, sim, um proposta forte do prefeito de mudança. Achei desnecessária a forma como foi colocada pelo vereador.
Em entrevista a ZH, o vereador se disse surpreendido pela reação do prefeito (Marchezan reforçou que "infratores de trânsito serão punidos"), lembrando uma conversa com o senhor, na qual, segundo ele, o senhor teria manifestado a preocupação de fazer um "reposicionamento ideológico dos agentes". Como o senhor entendeu isso?
A gente está fazendo um trabalho, dentro da proposta do prefeito, de mudança da imagem da EPTC. O agente tem de se colocar num cruzamento para ajudar num congestionamento, tem de se propor a auxiliar na solução do trânsito, ter uma mudança de postura nesse sentido. Ele vai continuar atuando, mas ele tem de educar, orientar. E isso a gente vem incluindo nos treinamentos. Gostaria que o Valter conhecesse o tipo de treinamento que a gente dá, qual a importância que a gente está dando para o agente no dia a dia da cidade, para valorizar um trabalho que as vezes a pessoa reduz a autuação.
O senhor acredita que o vereador entendeu errado o que o senhor falou sobre a mudança de postura, que ele entendeu que vocês queriam não aplicar tantas multas?
Olha só, a gente não tem assim: tem de multar 10 veículos, tem de multar 100. Um dos trabalhos é autuar. Mas a gente também vai fortalecer a educação. A gente criou ações novas de educação, como blitze para parar e parabenizar o cara que está fazendo certo. É uma coisa que pegou muito bem. A gente não diz: "tu multas mais" ou "tu multas menos". A gente diz: "tu tens de fazer o teu trabalho, que é educar, orientar, autuar". Isso tudo eu expliquei para ele.
O vereador colocou em dúvida a própria veracidade das multas que são aplicadas pelos agentes. Como o senhor recebeu essa manifestação?
Os agentes são todos concursados, passam por exames psicotécnicos, passam por treinamento regular. Pode haver alguma falha humana, mas a chance de isso ter ocorrido é mínima.
O senhor sentiu algum desconforto por o vereador ter tratado de multas pessoais com o senhor?
Não. É bem comum atender todos os vereadores. Sempre tem demandas. E qualquer cidadão. Quando a gente sofre qualquer tipo de crítica, a gente procura ir atrás da informação, dar um retorno, tentar solucionar quando for possível. É normal, não vejo problema. Tanto como vereador quanto como cidadão ele seria atendido, assim como qualquer pessoa.
O senhor pretende fazer algum contato com o vereador para falar do assunto?
No primeiro momento em que ele me ligou para fazer um desabafo, eu disse: posso te atender, está disponível a minha agenda para tu me explicares o que está acontecendo. Depois de toda essa discussão, continuo à disposição para ver o que houve, já disse como é o procedimento, como funciona o encaminhamento da defesa. Ele está totalmente instruído de como é o procedimento normal. Já convidei ele para ir lá e ver qual é a nossa ideia de gestão.