A curva da Serra Dona Francisca, em Joinville, palco da maior tragédia rodoviária da história de Santa Catarina, que completa um ano nesta segunda-feira, está florida, bem sinalizada e protegida com um guardrail de mais de dez metros. Estas são algumas das principais mudanças desde o acidente que matou 51 pessoas e deixou outras oito feridas.
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Durante todo o ano de 2015, autoridades políticas e empresariais da região se reuniram para buscar melhorias na estrada que corta a serra. Discutiu-se a criação de áreas de escape nas principais descidas, como a que existe na BR-376, entre Joinville e Curitiba; a abertura de mais pistas onde fosse possível, o que ajudaria na ultrapassagem a caminhões pesados e lentos que descem e sobem a estrada todos os dias; e até a proibição do trânsito de veículos pesados, com cargas perigosas e de passageiros pela Dona Francisca.
Mas nenhuma das medidas foi colocada em prática. Estudos técnicos demonstraram que não há muito o que fazer para mudar o traçado ou amenizar os pontos mais críticos da rodovia. Seriam obras muito caras ou de complicados arranjos de engenharia.
Como abrir uma pista ou uma área de escape numa montanha de pedras, vegetação fechada e de preservação ambiental? Como garantir lá nas curvas do alto da serra a mesma ou similar segurança que tem o motorista que está trafegando numa reta, no plano? Logo depois do acidente, entidades joinvilenses como a Acij, a CDL e a Ajorpeme se mobilizaram para discutir e sugerir melhorias na rodovia. O governo do Estado providenciou um estudo detalhado dos trechos mais perigosos e das ações que poderiam melhorar a segurança da rodovia.
Mas, um ano depois, o resultado prático no trecho mais crítico da rodovia - entre Pirabeiraba, na zona rural de Joinville, e a entrada de Campo Alegre, onde a serra já é menos acentuada - pode ser resumido em cinco pontos: as sinalizações horizontal e vertical foram reforçadas; os postes danificados ou luzes queimadas foram substituídos; a drenagem foi melhorada em todos os trechos; a vegetação que impede a visão de placas e pontos cegos da rodovia tem sido removida periodicamente; e guardrails foram instalados nos pontos mais perigosos, inclusive no local do acidente.
Pedaços retorcidos de uma história de dor
A pouco mais de 40 quilômetros de onde ocorreu o acidente, uma enorme lona branca ao lado do posto da Polícia Rodoviária Estadual esconde os restos do ônibus da empresa Costa & Mar. O veículo está no gramado desde que foi retirado da serra e não deve sair de lá tão cedo. Maria Gaias, mulher do motorista e dono da empresa Costa & Mar, Cérgio Antônio da Costa, não consegue sequer regularizar a documentação da empresa. Ela perdeu o marido e o filho de 12 anos no acidente. Se não houver alguém interessado em comprar os restos do metal retorcido, das partes mecânicas que ainda poderiam ser aproveitadas, como pneus, bancos e parte do motor, tudo ficará lá. O veículo também pode ir a leilão. Os sinais da tragédia ainda podem ser vistos sob a lona.
No assoalho do ônibus, um tênis de uma das crianças e um chinelo adulto ficaram perdidos debaixo dos bancos. Há roupas espalhadas e até um cobertor de bebê dobrado entre as ferragens. Do lado de fora, parte do motor, pneus e mais metal retorcido.
Maria Gaias recebeu uma série de notificações ambientais, judiciais e de trânsito, mas como ela não era sócia da empresa, não consegue nem responder juridicamente pelas consequências do acidente. Ela contratou um advogado para acompanhar os passos dos inquéritos, das ações na Justiça e dos atos administrativos junto ao governo do Estado e à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
A última curva
Confira o que mudou na Serra Dona Francisca um ano após acidente
Reportagem mostra como está o cenário no local de tragédia com ônibus que tirou a vida de 51 pessoas e deixou outras oito feridas no dia 14 de março de 2015
Leandro S. Junges
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