Bloqueada desde segunda-feira por caminhoneiros, a BR-468 foi liberada na tarde desta terça-feira pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Por volta das 14h30min, cerca de 10 viaturas chegaram no km 0 com uma liminar para liberar a rodovia.
Alguns caminhoneiros que estavam parados no local seguiram viagem, mas a maioria ficou, apenas desbloqueando a via e seguindo com a manifestação nas margens. A PRF não fez uso de força.
Os caminhoneiros autônomos e organizadores do protesto no município Rodrigo Moreira, Carlos Pelé e Odi Vani afirmaram que o protesto continuará e que não há previsão de término, a não ser que os governos federal e estadual sinalizem positivamente para as reivindicações: preço do diesel, diminuição do preço do frete, além de más condições para cumprir lei do descanso e melhorias nas estradas para melhor trafegabilidade.
Abaixo, veja entrevista com os caminhoneiros:
Quais são as reivindicações dos caminhoneiros neste movimento?
Odi Vani - Primeiro lugar é o frete, queremos uma tabela com o frete por Km, porque da maneira que está, o retorno não existe. Também o que está nos incomodando muito, que foi o que abriu o leque é o preço do óleo diesel. O terceiro ponto é a Lei do Descanso (Lei n.º 12640), com ela não tem problema, a gente trabalha 12 horas por dia. Mas nós não podemos rodar à noite, aí não faturamos e não pagamos as contas, assim a corda estourou. Ratificando: a classe é totalmente favorável às 12 horas de trabalho por dia, mas nós precisamos ter condições, do jeito que está, não dá.
Até quando estão programadas as manifestações?
Carlos Pelé - Até receber uma resposta do Governo. Eu acredito que o óleo diesel vai acontecer como aconteceu em Rondônia, que fizeram um acordo de frete e óleo diesel, onde o governo do Estado tirou totalmente o ICMS. No Maranhão, não precisou de pressão, o governo estadual foi lá e deixou em condições, a Bunge e a Cargill deram uma melhorada no frete. Aqui temos Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, são três Estados que no agronegócio são os caras mais "zoiudos" que só querem para eles, não querem parceria com nós que transportamos. Não sei até onde isso vai, o negócio parou, não temos condições de trabalhar, impossível, não sobra.
Quais as condições das estradas para os caminhoneiros?
Rodrigo Moreira - Onde existe pedágio ainda está mais ou menos, agora onde o estado assumiu ou onde são estradas federais praticamente não temos estradas. Tu pega a BR-163 chegando até Cascavel-PR não tem estrada, é terrível, se faz 400 km em 20 horas. Primeiro o governo tinha de dar infraestrutura, arrumar as estradas e fazer postos de parada. Hoje temos postos de parada chamados "área de descanso", só que aí temos de ir lá no chão e escrever banheiro, pois não tem banheiro, não tem nada. O que querem cobrar de nós? O óleo diesel está caro e o frete defasado, nós estamos puxando frete com o preço menor que 2003. Nós estamos aqui igual mendigo, mendigando para o governo dar uma chance para nós sobreviver e trabalhar para sustentar uma família.
O que aconteceu no acidente com o caminhão de suínos, ocorrido dia 23?
Rodrigo Moreira - A própria família declarou que foi tentativa de assalto. Estão implantando uma situação, a população gosta de condenar, só que quando vem a verdade já é tarde demais, fica aquela imagem antiga. Foi uma fatalidade em um momento em que estamos aqui em um protesto pacífico. Claro que alguns caminhoneiros ficam aqui por medo de alguma represália, mas não existe isso. Se o cara quer ir embora ele vai. Nós nos responsabilizamos por este movimento aqui, ali na frente não temos nada que ver. Todas as cargas vivas foram liberadas, pois é crime barrar carga viva. Naquela rodovia (entroncamento da BR-158 com BR-468) não havia protesto, a própria família do acidentado deu entrevista que ele foi vítima de tentativa de assalto. Nós estamos sabendo deste caso só por parte da mídia, tanto que ficamos sabendo do acidente só uma hora depois do ocorrido.