Paralela à principal avenida de Montenegro, a extensão de 1,5 km da ciclofaixa da Rua Capitão Cruz teve medida suficiente para armar polêmica na cidade de 62,8 mil habitantes no Vale do Caí. O problema não é o enxugamento do espaço para carros, garantem moradores: mas o local onde a novidade foi cravada, que colocaria em risco a segurança de ciclistas.
O debate rompeu a esfera da mobilidade urbana e se tornou motivo de demissão na prefeitura. Ex-diretor de Trânsito da cidade, Edar Borges Machado pediu exoneração do cargo na sexta-feira passada - dia em que a estrutura começou a ser delineada. O prefeito Paulo Azeredo (PDT) contesta. Segundo ele, Borges foi desligado em razão das férias que queria tirar, às quais não teria direito:
- Eu não seria insano de fazer um projeto para causar acidentes.
O ex-diretor rebate:
- Não tenho nenhuma dúvida quanto a isso (à insegurança da ciclovia). Como ficou muito estreita a pista de rolamento, os ônibus, para saírem da parada em razão de outros veículos estacionados, precisam entrar na ciclofaixa - rebate o ex-diretor.
Especialista em trânsito e professor de pós-graduação do tema na universidade Senac, Machado diz que o plano de mobilidade previsto na cidade não incluía a ciclofaixa na via - ou seja, que a medida foi implantada sem estudo e consulta ao Conselho de Trânsito. Azeredo sustenta que houve análise técnica e que o projeto foi "aprovado por unanimidade pelo secretariado" - mas não informou o valor total previsto para a obra.
A prefeitura garante que adequações ainda serão instaladas até a conclusão da ciclofaixa, prevista para até o fim do mês. Nesta quarta-feira, meios-fios de um metro de largura começaram a ser instalados a cada quatro metros para impedir que veículos invadam a pista exclusiva às bicicletas- infração flagrada ao longo do dia por ZH.
- Em termos da necessidade de a cidade ser contemplada por uma ciclofaixa, é uma conquista para os ciclistas. O problema é a falta de segurança - diz o presidente da Associação dos Ciclistas de Montenegro, Paulo Petry.
Além da instalação de anteparos para impedir a invasão de veículos, a associação solicitou à prefeitura a colocação de sinalização e a implantação de dois sentidos em toda a rua. Atualmente, metade da Capitão Cruz é mão única, e o resto, dupla.
Foto: Fernando Gomes / Agência RBS
Não há lei para planos cicloviários no país
Parte da polêmica de Montenegro se explica pela falta de uma normativa que dite planos cicloviários no país. Há resoluções do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) que sugerem elementos relativos às bicicletas e manuais escritos por especialistas, mas nenhum com poder de lei. Coordenador do plano cicloviário de Curitiba, o arquiteto Antônio Miranda é responsável por três desses guias. Segundo ele, ciclofaixas (quando não há barreira física que limite o espaço do ciclista) não são recomendáveis no meio de ruas e avenidas - mas, quanto a ciclovias, não há restrições. Com a instalação dos meios-fios, Miranda diz que a faixa de Montenegro passa a se configurar como uma ciclovia:
Na avaliação do especialista, a velocidade da rua deve ser controlada para que carros, motos, ônibus e caminhões não ultrapassem 40 km/h, e barreiras físicas são indispensáveis para garantir a segurança.
* Zero Hora