
O telescópio espacial James Webb, da NASA, registrou o que pode ser a primeira estrela observada "engolindo" um planeta. Localizada na galáxia da Via Láctea, a estrela está a cerca de 12 mil anos-luz de distância da Terra e de um planeta do tamanho de Júpiter, que orbitava bem próximo dela.
A pesquisa foi publicada na quinta-feira (10) no The Astrophysical Journal e sugere que a estrela não inchou para envolver um planeta como se supunha anteriormente. Em vez disso, as observações de Webb mostram que a órbita do planeta encolheu com o tempo, se aproximando lentamente da morte até ser totalmente engolido.
— Por se tratar de um evento tão novo não sabíamos muito bem o que esperar quando decidimos apontar esse telescópio em sua direção —, disse o astrônomo Ryan Lau, principal autor do artigo.
— Com o olhar de alta resolução no infravermelho do telescópio estamos aprendendo informações valiosas sobre o destino final dos sistemas planetários, possivelmente incluindo o nosso —, comentou o cientista.
O James Webb é o principal observatório de ciências espaciais do mundo.
— O Webb está solucionando mistérios em nosso sistema solar, olhando para mundos distantes ao redor de outras estrelas, e investigando as misteriosas estruturas e origens de nosso universo e nosso lugar nele —, afirma a NASA, líder do programa internacional junto à ESA (Agência Espacial Europeia) e à CSA (Agência Espacial Canadense).
Uma investigação inicial de 2023 levou os pesquisadores a acreditarem na semelhança da estrela com o Sol. Os estudos apontavam também que ela estava em processo de envelhecimento há centenas de milhares de anos, expandindo-se lentamente à medida que esgotava seu combustível de hidrogênio.
Entretanto, as novas descobertas mostraram uma história diferente: com uma sensibilidade e resolução espacial poderosas, o telescópio conseguiu medir com precisão a emissão oculta da estrela e de seus arredores imediatos, que se encontram em uma região do espaço muito populosa. Descobriu-se que a estrela não era tão brilhante quanto deveria ser se tivesse evoluído para uma gigante vermelha, indicando que não havia inchaço para engolir o planeta, como se pensava.
Para os pesquisadores, em um determinado momento o planeta era do tamanho de Júpiter, mas orbitava bem próximo da estrela, mais que a órbita de Mercúrio ao redor do nosso Sol. Ao longo de milhões de anos, o planeta orbitou cada vez mais perto da estrela, o que levou a uma consequência catastrófica.
— O planeta, ao cair, começou a se espalhar ao redor da estrela —, disse Morgan MacLeod, membro da equipe do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts em Cambridge, Massachusetts.
Em sua queda final, o planeta teria expelido gás das camadas externas da estrela. À medida que ele se expandia e esfriava, os elementos pesados desse gás se condensavam em poeira fria no ano seguinte.
— Com um telescópio tão transformador como o Webb, era difícil para mim ter qualquer expectativa do que encontraríamos nos arredores imediatos da estrela —, afirmou Colette Salyk, do Vassar College em Poughkeepsie, Nova York, pesquisadora de exoplanetas e coautora do artigo.
O que acontece após o planeta ser engolido?
A capacidade de caracterizar esse gás expelido pelo planeta abre novas questões aos pesquisadores sobre o que realmente aconteceu após ser totalmente engolido pela estrela.
— Esse é realmente o precipício do estudo desses eventos. Esse é o único que observamos em ação, e essa é a melhor detecção das consequências depois que as coisas se acalmam —, explicou Lau. — Esperamos que este seja apenas o início de nossa amostra —.
Os estudiosos esperam aumentar sua amostra e identificar futuros eventos como este usando o futuro Observatório Vera C. Rubin e o Telescópio Espacial Nancy Grace Roman da NASA, que pesquisará grandes áreas do céu repetidamente para procurar mudanças ao longo do tempo.