Durante a corrida espacial travada entre os Estados Unidos e antiga União Soviética, nas décadas de 1950 e 1960, as informações sobre os bastidores dos testes e das missões no espaço eram ainda mais sigilosas, já que cada uma das potências queria proteger suas tecnologias para que elas não fossem copiadas pela concorrente. Em meio a isso, a população começou a especular e criar teorias de como seriam realizadas as viagens e como era a rotina dos astronautas.
Entre as dúvidas mais frequentes estava o que os astronautas comiam, onde dormiam e como faziam as necessidades físicas dentro de uma espaçonave. Nessa época também surgiu uma lenda sobre a maneira como os viajantes do espaço conseguiam escrever com a gravidade reduzida.
Os boatos diziam que os astronautas da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) investiram seis meses desenvolvendo uma tecnologia inovadora e revolucionária para poderem escrever no espaço, enquanto os cosmonautas (nome dado aos astronautas da Rússia) utilizavam lápis.
Segundo informações do site da Nasa, a agência espacial nunca utilizou lápis em suas missões espaciais já que a ponta do objeto poderia facilmente quebrar e, quando flutuasse, criaria um perigo para os astronautas e os componentes eletrônicos sensíveis da aeronave. Além disso, o grafite, presente no lápis é altamente inflamável e conduz eletricidade, o que também representaria perigo à tripulação a bordo.
O que os astronautas utilizavam para escrever nas primeiras missões espaciais?
Para os astronautas escreverem no espaço, a Nasa adotou uma lapiseira especial fabricada pela empresa Tycam Engineering Manufacturing Inc. No entanto, o objeto era extremamente caro, o que forçou a agência espacial a iniciar pesquisas para desenvolver e/ou encontrar alternativas mais viáveis economicamente.
Na década de 1950, o norte-americano Paul Fisher, da empresa Fisher Pen Company, criou uma caneta esferográfica que funcionava tanto debaixo d'água quanto no espaço, devido a uma carga pressurizada.
Os primeiros modelos da caneta de Fisher apresentavam alguns defeitos, como vazamento de tinta ou ela pulando ou secando rapidamente. Quando a Nasa procurou Paul e demonstrou interesse em seu projeto, ele começou a trabalhar em melhorias e conseguiu adicionar resina à tinta para torná-la tixotrópica (quase sólida até que o atrito com a bola na ponta da caneta a liquefaz). O norte-americano decidiu chamar o produto de AG7, em referência a antigravidade, e enviou vários exemplares para a agência espacial.
Quando aos pesquisadores da Nasa testaram as canetas, perceberam que ela funcionava em todas as posições, no calor e no frio extremos e em atmosferas que variavam do oxigênio puro ao vácuo. Além disso, constataram que havia tinta suficiente para desenhar uma linha sólida com mais de três milhas de comprimento (cerca de 4,82 quilômetros).
Com os testes aprovados pela Nasa, o produto estreou durante a missão Apollo 7, em 1968. Depois de estar presente em uma missão ao espaço, Fisher decidiu batizar as canetas de space pen (caneta espacial, em português). Os cosmonautas também resolveram adotar a caneta e passaram a utilizá-la desde 1969.
Como é a escrita no espaço atualmente?
As space pens continuam sendo utilizadas pelos astronautas. Hoje em dia, a linha conta com mais de 80 modelos. Atualmente, dezenas delas estão a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS).
A Fisher Pen Company tem distribuidores em 52 países, o que expandiu o produto para outras nações. O item também tem se popularizado entre policiais, membros das forças armadas, fabricantes de aviões, trabalhadores da área petrolífera e adeptos de atividades ao ar livre.
São também utilizados pelos astronautas lapiseiras especiais e canetas da marca Sharpie. Além disso, com o avanço da tecnologia, eles também têm aderido a escrita digital em tablets especiais desenvolvidos para suportar o ambiente espacial.