Um grupo de cientistas publicou nesta segunda-feira (27) na revista científica Nature Geoscience um estudo que revela a existência de água em pequenos grãos de vidro presentes em crateras da Lua. Os dados foram obtidos com o rover espacial chinês Chang’e 5, da Administração Espacial Nacional da China (CNSA), que permaneceu duas semanas em solo lunar em dezembro de 2020 perfurando vários metros da superfície do corpo celeste.
A partir da exploração, a sonda conseguiu recuperar 16,7 quilos do solo lunar. Nessa amostra coletada e enviada à Terra, pesquisadores de diversas instituições na China, como a Universidade de Nanjing e a Academia Chinesa de Ciências (CAS), escolheram 150 grãos para estudar, que variavam em tamanho de cerca de 50 micrômetros – medida relativa à largura de um fio de cabelo humano – a aproximadamente um milímetro. Foi então que, para a surpresa da equipe, ao examinar o material, foi localizada água em seu interior.
Vale lembrar que não é incomum encontrar grãos de vidro, feitos de silicato e que variam de formato e tamanho, no corpo celeste. Algumas dessas estruturas são resultados da colisão de asteroides contra o solo lunar. Já outras são oriundas de atividade vulcânica ocorrida há milhões de anos.
A pesquisa recém-publicada conseguiu trazer alguns esclarecimentos sobre o ciclo de água na superfície lunar. Uma das hipóteses vigentes e baseada em estudos da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) é de que a água está presente no lado da Lua iluminado pelo Sol e de que existe uma camada hidratada que funciona como um reservatório desse líquido na profundeza do solo do corpo celeste.
— No entanto, encontrar esse reservatório parecia ilusório, apesar de diversos estudos terem investigado o inventário de água em grãos finos de minerais em solo lunar — declarou à imprensa o professor Sen Hu, líder da pesquisa e integrante do Instituto de Geologia e Geofísica (IGG) da CAS.
"Encontramos um novo mecanismo, no qual o hidrogênio do vento solar pode difundir nas gotas de vidro e, assim, identificamos um novo reservatório de água na Lua. Por outro lado, gotas de vidro de impacto são distribuídas no regolito globalmente na Lua. Portanto, as gotas de vidro de impacto podem ser reabastecidas com água na superfície da Lua e podem sustentar o ciclo da água na superfície lunar", explicou, em comunicado, Hejiu Hui, um dos coautores do estudo e pesquisador da Universidade de Nanjing.
Importância do estudo
Além de trazer mais informações sobre a formação e armazenamento de água na Lua, a pesquisa pode contribuir para a localização futura de água potável no satélite natural, o que pode ser útil em missões exploratórias com astronautas em solo lunar. Com isso, além de o líquido poder ser consumido para uso próprio, ele poderia também servir até mesmo como combustível para foguetes e outros veículos espaciais.
Chegar à Lua tem sido um dos objetivos ambiciosos de diversas instituições espaciais. A Nasa, com seu programa Artemis, pretende até 2025 levar a primeira mulher à Lua junto outros tripulantes.