O balão científico que caiu na sexta-feira (10) em Alegrete, na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, é projetado para voar a 20 quilômetros de altura da superfície terrestre, na estratosfera, acima do nível em que viajam os aviões ou em que ocorrem os eventos climáticos.
O equipamento é propriedade da Alphabet, controladora da Google, e faz parte de um projeto chamado Loon. O objetivo, diz a Alphabet, é ampliar a cobertura de internet das operadoras de telefonia móvel que atuam pela via terrestre. É como se o balão capturasse o sinal das antenas das operadoras que são parceiras e, dos céus, projetasse a disponibilidade do sinal para áreas remotas, onde a conectividade não chega somente com a capacidade das antenas de solo. A tecnologia também está sendo usada para ampliar a conectividade em regiões de interior em que não é economicamente viável o investimento para a instalação de redes terrestres de transmissão.
— Esse projeto começou em 2013 e, a grosso modo, seria como ter um conjunto de antenas móveis no céu. Toda tecnologia, até ficar bem estabelecida, enfrenta pequenos acidentes. Ainda está em teste, mas eles já conseguiram diversas conexões. Me parece que vai ser uma solução para prover internet em locais remotos, onde o custo para pôr antenas pode ser muito alto — avalia Avelino Zorzo, professor do programa de pós-graduação em Computação da PUCRS.
Em 2017, por exemplo, a Loon atuou em conjunto com a Telefonica e o governo do Peru para ofertar conectividade em áreas afetadas por inundações. O projeto também cita ter atuado em Porto Rico para fornecer acesso básico ao sinal de internet a cerca de 200 mil pessoas após a passagem de um furacão que comprometeu as redes no solo.
Jéferson Campos Nobre, professor do Instituto de Informática da UFRGS, afirma que um dos principais avanços trazidos por esse tecnologia deverá ser o restabelecimento de comunicações via internet em situações de emergência.
— Basicamente, os balões se conectam com o que chamamos de estações terrestres, uma operadora que está no solo. É criada uma rede de celular, só que a antena está no balão. E aí se consegue algo muito interessante que é a atuação em desastres naturais. Se um vendaval derruba as antenas da região, o balão pode restabelecer o sinal temporariamente — explica Nobre.
O projeto desenvolveu máquinas específicas para lançar os equipamentos, com painéis laterais que protegem do vento. Segundo informações da Loon, cada balão tem o tamanho de uma quadra de tênis, projetado para durar mais de cem dias antes de regressar à superfície terrestre.
O equipamento leva painéis solares responsáveis por gerar energia e alimentar o sistema. No restante do balão científico, há os componentes de uma torre de celular, o que permite a ampliação do sinal. O projeto diz que tudo precisa ser projetado para resistir às condições adversas da estratosfera, com ventos que podem soprar acima de 100 km/h e temperaturas que chegam aos 90ºC negativos.
A iniciativa informa que seus balões podem sobrevoar qualquer parte do planeta Terra. O sistema de navegação funciona a partir de algoritmos e softwares, sob supervisão humana. O equipamento é posicionado em camadas de vento da estratosfera adequadas para o levarem aos locais planejados.
A Loon ainda diz que as quedas, ou aterrissagens, como essa que ocorreu em Alegrete, são planejadas e combinadas com o controle de tráfego aéreo local para não prejudicar voos. A controladora da Google registra, no site da iniciativa, que guia os equipamentos até áreas desabitadas, em que possam descer com maior segurança, auxiliados por sistema GPS. Quando é tomada a decisão de retirar o balão de serviço, o gás de elevação que o mantém no ar é liberado e, depois, é acionado o paraquedas. A Loon diz que equipes terrestres fazem a recuperação do equipamento — fato que aconteceu em Alegrete.
Scott Coriell, chefe de comunicação da Loon, se manifestou sobre o fato por meio de nota:
"Posso confirmar que Loon executou um pouso controlado de um de nossos balões estratosféricos na comunidade do Rio do Sul, no sul do Brasil, na sexta-feira, 10 de janeiro. Esse pouso foi realizado de maneira segura após a coordenação com as autoridades locais de controle de tráfego aéreo. De acordo com os procedimentos de pouso de Loon, um para-quedas foi acionado e o balão foi trazido ao chão a uma velocidade relativamente baixa em uma área isolada. Em nenhum momento isso representou um risco para a população local. Nossa equipe local de recuperação já recolheu o balão e os componentes".