Ideias que fomentem a solução de problemas da humanidade, estejam eles na terra, no espaço ou em outros planetas, levaram 80 pessoas a participar do Nasa Space Apps Challenge neste final de semana, em Porto Alegre, nas dependências da Fábrica do Futuro, um espaço privado, no bairro Floresta, ligado ao empreendedorismo.
O projeto, idealizado pela agência espacial norte-americana, acontece simultaneamente entre sexta-feira (18) e domingo (20) em 35 cidades brasileiras, com imersão de 48 horas para discutir invenções e experimentos diante de 25 desafios definidos pela Nasa.
Na edição da capital gaúcha, os participantes foram divididos em 12 equipes. No final da edição, duas escolhidas serão alçadas a uma etapa nacional, que antecede a seleção das seis melhores criações que serão elevadas à fase global, com oportunidades de investimentos para execução da ideia. Entre os perfis profissionais que mais se inscreveram, se destacaram os designers, engenheiros, físicos, químicos, administradores e interessados em tecnologia.
— Decidi participar porque estar em um evento da Nasa é uma grande oportunidade — resumiu Thalia Fontoura, 19 anos, graduanda de publicidade.
Junto da amiga Eduarda Maria Polonio, 20 anos, estudante do mesmo curso, elas atuavam em um grupo que tinha o desafio de criar ferramenta capaz de mapear e recolher o lixo dos oceanos. Recentemente, o mundo foi impactado por imagens que mostravam imensas manchas de lixo plástico sobre a água em alto-mar. A equipe, contudo, decidiu não se dedicar aos chamados "macroplásticos", esses que podem ser vistos a olho nu, como as garrafas pet que são descartadas indevidamente.
— Estamos trabalhando em um processo para retirar os microplásticos da água. São os mais difíceis de recolher, derivados do poliéster. Até mesmo na lavagem de roupa na máquina, microplásticos acabam sendo despejados até chegar aos oceanos. Eles podem sair de tênis ou de blusas com estampas. É um resíduo mais difícil de ser recolhido — explica Eduarda.
Havia outros desafios com temáticas atuais e próximas da realidade das pessoas. Um deles era desenvolver tecnologia capaz de usar imagens de satélites da Nasa para identificar situações de risco e prevenir tragédias ambientais como as de Brumadinho e Mariana, ambas envolvendo o rompimento de barragens que represavam rejeitos da mineração.
Também contemporâneo era o estímulo para que um dos times se valesse dos equipamentos de imagem da agência para mapear e evitar incêndios florestais.
Mas havia metas que abordavam temas distantes, fora da órbita terrestre, ligados estritamente à ciência de ponta. A Nasa instigou os participantes a desenvolverem novos dispositivos de memória, os hardwares, para armazenar dados em outros planetas. O problema é que, hoje, quando cientistas enviam um dispositivo para coletar informações no espaço, a memória pode sofrer danos na viagem de volta à Terra por conta de condições climáticas e eletromagnéticas, ocasionando a perda do conteúdo. Um grupo tinha a tarefa de pensar esse singelo problema.
Havia outro item galáctico: o desenvolvimento de um jogo para conscientizar as pessoas sobre o lixo espacial. Ocorre que a humanidade está enviando desde a Guerra Fria, nos anos 50, satélites, foguetes e estações espaciais para fora da órbita. Os equipamentos se deterioram e alguns deles dependem de ações de desacoplamento em meio à viagem. Os detritos vagam na imensidão e podem causar problemas, como mostra o filme Gravidade, em que cientistas ficam à deriva no espaço buscando sobreviver a violentas rajadas de lixo espacial.
— Esses sedimentos ficam orbitando no campo gravitacional, podendo causar colisões e reações em cadeia envolvendo satélites — explica Pedro Schanzer, produtor do evento, analista de negócios e programador da Fábrica do Futuro.
Neste sábado (19), o Nasa Space Apps Challenge, além dos desafios, ofereceu aos participantes e visitantes a possibilidade de conhecer o planetário itinerante digital da Ufrgs, batizado Professor José Baptista Pereira, em homenagem a um dos pioneiros da astronomia no Rio Grande do Sul.
O equipamento é inflável e foi aberto ao público apenas pela segunda vez. No seu interior, são projetadas na cobertura de abóbada imagens que simulam o espaço e apresentam conceitos sobre o sistema solar, as galáxias e a origem do universo. A estrutura itinerante é parte do tradicional planetário que fica na Avenida Ramiro Barcelos, em Porto Alegre. A diferença é que o antigo prédio físico é de sistema analógico, enquanto o inflável é digital, o que permite reproduzir imagens captadas por satélites e telescópios. Diretora do planetário da Ufrgs, a física e astrônoma Daniela Borges Pavani informa que serão organizados calendários escolares para levar a versão itinerante ao interior do Estado.
— A ciência e a cultura têm que caminhar juntas. A ideia é entrar e clarear esses debates — diz Daniela.