O pessoal da Variable State quer contar uma história para você. É sobre o rapto de um garoto no início dos anos 1990, mas também envolve discos voadores, viagens de ácido lisérgico, corrupção no FBI e escolhas erradas. Ninguém disse que seria fácil.
Lançado há pouco, Virginia é um daqueles games indies que te fazem abrir um sorriso logo nos primeiros minutos, quando você se depara com gráficos poligonais estilizados classudos, paleta de cores sóbria e trilha sonora caprichada. Para uma mente cansada do hiperpolimento e previsibilidade dos blockbusters, chega a ser orgástico o prazer de descobrir que ainda há gente na indústria do entretenimento eletrônico interessada em fazer algo diferente, ousado, fora dos padrões mesmo.
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Ah, sim, e querendo contar boas histórias, investir em narrativas criativas, em desafiar o jogador para além do mero apertar de botões. Até porque, em Virginia, você não precisa se preocupar em ser rápido no gatilho. No comando de uma agente do FBI, o jogador meramente caminha pelo cenário e pressiona o botão em locais pré-definidos, na linha dos dramas interativos. Sim, não é um jogo de ação. É um fluxo de informações constante que firma um único pacto com o sujeito do outro lado da tela: respira fundo e vem comigo.
SÓ. VEM. COMIGO.
A história é essa: você é uma agente do FBI recrutada para investigar o desaparecimento de um garoto na cidadezinha de Kindgom, no estado americano da Virginia. Ao mesmo tempo, seu chefe pede para que você investigue a sua parceira. Meio a contra gosto, você topa.
A partir daí o jogo vai e volta no tempo, apresenta fatos presentes e futuros a respeito do seu personagem, da sua parceira, do seu chefe, às vezes dentro do tempo e espaço real da narrativa, às vezes no mundo dos sonhos (e às vezes dentro de uma viagem de ácido). Muitas vezes nada faz sentido naquele momento, mas fará no decorrer da trama.
O clima sombrio, a narrativa fragmentada, personagens cheios de áreas cinzentas e angustiados e a trilha sonora remete imediatamente a Twin Peaks. Aliás, o cerne de Virginia parece todo inspirado em Twin Peaks: uma localidade rural envolta em mistério, habitantes pouco afeitos a forasteiros e segredos que deveriam permanecer nas sombras. Não é, definitivamente, para quem procura alguns minutos de diversão despretensiosa. Para isso há outros jogos, vamos lá.
Há ainda em Virginia toque também de conspiração governamental, de esqueletos dentro dos armários de agências e tal. Certo verniz sobrenatural completa o cenário – mas não o domina, é bom ressaltar. Virginia é mais uma trama psicológica do que de fantasia ou com viés sci-fi. Seu objetivo, como os próprios desenvolvedores do jogo ressaltam em uma carta disponível no menu, é confundir e causar estranhamento no jogador.
Bem, eles conseguiram. E eu recomendo fortemente que você também se perca em Virginia.
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JOGAMOS: "Virginia" é sucessor espiritual de "Twin Peaks"
Game indie da Variable State surpreende pela narrativa fragmentada, visual estilizado e trilha sonora soberba
Gustavo Brigatti
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