
Prestes a completar seis meses, o uso de câmeras corporais em uniformes da Brigada Militar tem apresentado resultados positivos, conforme dados fornecidos pelo Centro Integrado de Operações e Emergência da Brigada Militar (Copom) a pedido de Zero Hora.
No 9º Batalhão de Polícia Militar, o primeiro a utilizar os equipamentos, o número de prisões por desacato caiu 77%, passando de 18 para 4. Os casos de resistência caíram ainda mais: 76,5%.
Uma das primeiras policiais a utilizar o equipamento, a soldado Roberta Souto afirma que a maioria das pessoas já nota a presença da câmera na farda no momento da ação.
— A gente nota, sim, uma diminuição nos desacatos durante as abordagens. Existe um maior respeito em relação ao trabalho policial.
Durante esses período, ela afirma ter conseguido registrar situações que, com a captação da imagem, auxiliaram no desdobramento do crime na Justiça.
— Teve um atendimento de ocorrência em que o indivíduo estava portando arma de fogo. Ele foi preso naquele momento e depois ele pediu para que a guarnição liberasse ele oferecendo uma quantia (em dinheiro). Ele está preso até hoje por conta da câmera, pois o Ministério Público validou o depoimento policial ao solicitar as imagens — conta.

O número de abertura de inquéritos policiais militares (IPM), instaurados quando há suspeita de crimes cometidos pelos policiais durante as abordagens reduziu 45%, de 20 para 11 no último trimestre do ano passado comparado ao mesmo período de 2023 no 9º Batalhão de Polícia Militar.
Já a quantidade de sindicâncias, abertas para apurar algum erro, caiu 41,7%, baixando de 12 para 7. Os procedimento administrativos disciplinares, que são as punições feitas caso for identificada alguma irregularidade, reduziram 41,9%.
— Pelo fato novo das câmeras é possível atribuir ao uso dos equipamentos. O comparativo com o ano anterior é muito significativo. Há também um aumento da apreensão de armas e drogas e aplicação da Lei Maria da Penha — afirma o comandante do Comando de Policiamento da Capital, coronel Fábio Schmitt. Atualmente, todas as câmeras disponíveis para o trabalho ostensivo estão em uso.
Como funciona
Antes de sair para o serviço, os policiais instalam a câmera na altura do peito. O equipamento possui um botão, que ao ser ativado, fica verde. Neste momento, a câmera passa a capturar imagens no “modo rotina”, em que é possível visualizar o que está sendo visto pelo PM, mas sem captar o som ambiente.
No momento da ocorrência, ele clica duas vezes no botão, acionando a cor vermelha. Nesse momento, é ativado o “modo intencional”, e a câmera passa a filmar em alta resolução e com o áudio.
Essas imagens, do ponto de vista do policial, são transmitidas em tempo real no Copom. Na manhã desta quinta-feira (13), a reportagem esteve na central e viu uma ocorrência ser atendida no momento em que acontecia. O motorista de um ônibus havia sido agredido. Enquanto um policial está dentro do coletivo prestando atendimento, o outro, com a câmera, mostra a ação ocorrendo.
— Como eles estão no atendimento de uma ocorrência, passa a ser intencional. A partir daí nós podemos observar as imagens, tomar decisões e, se for o caso, falar com os policiais que estão lá — explica Schmitt.
Apenas em Porto Alegre
Das mil câmeras adquiridas para uso da Brigada Militar 910 estão em uso nos batalhões da Capital. As outras 90 foram levadas, parte para o Departamento de Ensino da Brigada, e parte para o 4º Regimento de Polícia Montada (Rpmon).
Equipamentos por batalhões
- 1º BPM – (desde 7 de novembro de 2024): 160 câmeras
- 9º BPM – (desde 30 de setembro de 2024): 215 câmeras
- 11º BPM – (desde 22 de novembro de 2024): 140 câmeras
- 19º BPM – (desde 22 de outubro de 2024): 115 câmeras
- 20º BPM – (desde 26 de outubro de 2024): 150 câmeras
- 21º BPM – (desde 15 de dezembro de 2024: 130 câmeras
Até o momento não há previsão de uso em outros municípios gaúchos. Para isso, seria necessária uma nova compra. A reportagem questionou a Secretaria de Segurança Pública (SSP) sobre a possibilidade e aguarda retorno. O espaço segue aberto para manifestação.