A farinha em que foi constatada a presença de arsênio — metal usado como veneno — em doses letais seria usada para fazer bolo para encontro de grupo de idosas em Arroio do Sal, no Litoral Norte. Contudo, o evento foi cancelado.
A farinha acabou sendo usada no preparo do bolo que matou três pessoas da mesma família, em Torres, em 23 de dezembro.
Segundo a delegada regional de Capão da Canoa, Sabrina Deffente, a reunião ocorreria dias antes do encontro de família. No entanto, não houve consenso quanto ao horário para a realização do encontro e o chá foi cancelado.
A responsável pelo preparo do bolo seria Zeli Teresinha dos Anjos, 61 anos, que participava do grupo de senhoras na cidade onde reside. Sem saber da contaminação por arsênio, Zeli usou a farinha que sobrou para preparar o tradicional bolo de Natal servido anualmente para a família.
— Felizmente, esse chá acabou não saindo porque três ou quatro senhoras não conseguiram combinar um horário. Ela (Zeli) acabou usando no bolo que foi consumido no evento de família. Para vocês terem a noção da inconsequência dos atos dessa senhora (Deise), que poderia ter causado uma tragédia ainda maior, com pessoas que sequer tinham relação com ela — sublinha a delegada.
A contaminação da farinha por arsênio foi comprovada após análise pericial solicitada pela polícia. A suspeita de envenenar a farinha é Deise Moura dos Anjos, 42 anos, nora de Zeli. O motivo seria uma desavença com a sogra, que fez o bolo. Segundo a polícia, a briga entre elas durava pelo menos 20 anos.
Após as suspeitas sobre a nora, a polícia pediu a exumação do corpo de Paulo Luiz dos Anjos, marido de Zeli, que faleceu em setembro. À época, a causa da morte foi atestada como intoxicação alimentar.
A exumação foi realizada na manhã de quarta-feira (8) e o resultado do exame pericial, divulgado nesta sexta (10), confirmou o arsênio como causa da morte de Paulo.
Em coletiva de imprensa realizada em Capão da Canoa nesta manhã, a Polícia Civil confirmou que o veneno foi comprado por Deise pela internet, que pesquisou diversas vezes sobre a substância antes da compra.
A investigação aponta que ela teria envenenado o sogro com leite em pó, além das três pessoas que morreram e outras três que foram hospitalizadas após comer o bolo em dezembro do ano passado.
Deise foi presa no último domingo (5) após a Polícia Civil descobrir, no celular dela, pesquisas sobre efeito do uso de arsênio.
Ela está detida no Presídio Estadual Feminino de Torres, onde ficará por 30 dias, por suspeita de triplo homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e com emprego de veneno e tripla tentativa de homicídio duplamente qualificada.
Entenda o caso
Seis pessoas da mesma família passaram mal e precisaram procurar atendimento médico em 23 de dezembro após consumir um bolo, que continha arsênio, conforme análise da perícia da Polícia Civil.
Três delas morreram: Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, Maida Berenice Flores da Silva, 59, além de Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza.
Zeli Teresinha dos Anjos, 61 anos, responsável por fazer o bolo, foi hospitalizada e deixou a UTI na manhã desta segunda. Zeli recebeu alta hospitalar na manhã desta sexta-feira (10). Um menino de 10 anos, neto de Neuza e filho de Tatiana, também ficou hospitalizado vários dias, mas já está em casa.
Uma sexta vítima, um homem da família, foi liberado após atendimento médico. Uma sétima pessoa que participou da reunião familiar não chegou a comer o bolo e, por isso, não passou mal.
Contraponto
A defesa de Deise afirma que "as declarações divulgadas na coletiva de imprensa ainda não foram judicializadas no procedimento sobre o caso", portanto "aguarda a integralidade dos documentos e provas para análise e manifestação".
Nota da defesa na íntegra
O escritório Cassyus Pontes Advocacia representa a defesa de Deise Moura dos Anjos no inquérito em andamento sobre o fato do Bolo, na Comarca de Torres, tendo sido decretada no domingo a prisão temporária da investigada.
Todavia, até o momento, mesmo com o pedido da Defesa deferido pelo judiciário, ainda não houve o acesso ao inquérito judicial.
A família, desde o início, colabora da investigação, inclusive o com depoimento de Deise em delegacia, anterior ao decreto prisional.
Cumpre salientar, que as prisões temporárias possuem caráter investigativo, de coleta de provas, logo ainda restam diversos questionamentos e respostas em aberto neste caso, os quais não foram definidos ou esclarecidos no inquérito.