Zeli dos Anjos descreve a nora, Deise Moura dos Anjos, como "dissimulada e manipuladora". Zero Hora apurou, com fontes ligadas à Polícia Civil, detalhes do depoimento da idosa, realizado na última segunda-feira (20). A mulher seria o alvo da nora, suspeita de envenenar um bolo, causando a morte de três pessoas em Torres — além da morte do sogro, em setembro.
Durante a fala, a sogra mencionou o que chamou de "traço de psicopatia" da nora e revelou ter medo da suspeita, presa desde o dia 5 de janeiro. Deise teria "inveja doentia" de Zeli e, segundo a idosa, copiava seu jeito de se vestir e de se arrumar, além de comprar sapatos e acessórios iguais aos da sogra. O comportamento seria notado por todos, inclusive pela mãe da Deise.
A responsável por fazer o bolo confirmou que a relação entre as duas, marcada por "altos e baixos", piorou após um episódio envolvendo o saque de R$ 400 na conta da nora e do filho. Zeli disse que, na época, tinha acesso à conta bancária, estranhou as movimentações e retirou o valor para ver se eles tinham o controle sobre o dinheiro.
Apesar das desavenças, Zeli garantiu que nunca sofreu ameaças de Deise. Por dois anos, a sogra e a nora ficaram afastadas. Mas se reaproximaram após a enchente. Em meio a esse movimento, a esposa do filho deu apoio durante a tragédia e esteve com a família quando Zeli se mudou para a casa de praia em Arroio do Sal.
Envenenamento do sogro
Zeli dos Anjos deu detalhes também sobre o bate e volta de Deise e Diego a Arroio do Sal, em que levaram um pote com leite em pó e bananas, que seriam oriundas de uma área afetada pela enchente. Segundo as investigações, foi por causa do leite em pó, que estaria envenenado, que o marido de Zeli, Paulo dos Anjos, morreu.
A perícia encontrou arsênio no corpo do idoso. Segundo Zeli, ela e o marido chegaram a consumir o leite por dois dias seguidos, em um domingo e em uma segunda-feira, mas, apenas no segundo dia, ela soube que foi utilizado o produto do pote levado pela nora.
— Tenho certeza que, dessa vez, diferente do domingo, o café com leite em pó feito na segunda-feira era oriundo do pote que Deise trouxe — disse.
O marido da idosa havia comentado que utilizou o recipiente levado pela nora, o que motivou a hipótese de Zeli.
No velório de Paulo, Zeli disse que ouviu da sua irmã Maida, uma das vítimas do bolo, que Deise expressava uma sensação de vitória.
— Ela (Maida) disse: "Maninha, não come nada que ela te der, não beba nada que ela te alcance" — relatou Zeli.
No dia 16 de novembro, Deise, Diego e o filho do casal retornaram para a casa no Litoral Norte. A estadia durou quatro dias. A nora levou alimentos à residência, mas Zeli não lembra quais. Desde então, o casal não retornou mais à residência dos sogros. Na audiência, a mulher confirmou que havia dois sacos de farinha abertos. O que estava em menor quantidade foi utilizado por ela na preparação do bolo.
Torcida pela morte do próprio pai
Ainda de acordo com Zeli, Deisi supostamente não gostava do próprio pai e o chamava de alcoólatra. Apesar de desconhecer comportamentos que justificassem a rejeição, Zeli afirma que Deisi torceria para que ele morresse. A sogra não duvida de que ela possa ter matado o próprio pai. José Lori da Silveira Moura morreu em 2020, aos 67 anos, por cirrose.
A Polícia Civil chegou a avaliar pedir a exumação do corpo de José. No entanto, isso não foi feito até o momento. A investigação quer apontar se Deisi tinha outras desavenças.