A perícia que analisou o bolo que causou três mortes em Torres, no Litoral Norte, identificou, na sobremesa, altíssimas quantidades de arsênico, um veneno usado como inseticida.
Neste domingo (5), a nora de Zeli dos Anjos foi presa. O nome dela não foi divulgado, mas a reportagem apurou que se chama Deise Moura dos Anjos. Segundo os agentes, ela e a sogra tinham divergências familiares.
A mulher foi detida por suspeita de triplo homicídio duplamente qualificado e uma tripla tentativa de homicídio duplamente qualificada. A prisão foi coordenada pela equipe do delegado Marcos Vinicius Muniz Veloso, de Torres. Buscas foram feitas na casa de Deise, mas a polícia não divulgou o que foi encontrado no local.
A suspeita foi levada para a Delegacia da Polícia de Torres e será, posteriormente, encaminhada ao Presídio Estadual Feminino de Torres. A Polícia Civil dará mais detalhes sobre o caso às 9h de segunda-feira (6), no auditório da Delegacia Regional de Capão da Canoa.
O caso
Seis pessoas da mesma família passaram mal e precisaram procurar atendimento médico no último dia 23, após consumir um bolo, que continha arsênio, conforme análise da perícia do Instituto-Geral de Perícias (IGP).
Três delas morreram: duas irmãs de Zeli, Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, e Maida Berenice Flores da Silva, 59, além de Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza.
Zeli, responsável por fazer o bolo, permanece hospitalizada, na UTI em estado estável, de acordo com o boletim médico. Um menino de 10 anos, neto de Neuza e filho de Tatiana, também ficou hospitalizado, mas já está em casa. Uma sexta vítima, um homem da família, foi liberado após atendimento médico.
O que é arsênio
Arsênio é um metal natural que está presente no solo e, inclusive, traços dele são encontrados em alimentos e cosméticos. Contudo, dependendo da concentração, pode ser letal. O elemento químico foi detectado em exames de sangue de integrantes da família que comeu um bolo em Torres — três pessoas morreram.
O metal pode ser encontrado em diferentes composições químicas. Entre as mais populares no Brasil, está o arsênico, veneno para ratos e insetos que tem sua venda proibida no país desde 2005. As principais formas de se obter produtos com alta concentração de arsênio no Brasil são por comercialização clandestina ou em possíveis sobras ainda existentes, que são de antes da proibição, aponta o toxicologista Bruno dos Santos.
— O arsênico era conhecido como o rei dos venenos, porque mimetiza muitas vezes uma doença gastrointestinal, uma intoxicação alimentar. Então, a pessoa tinha muita diarreia, vômito, e acabava parecendo que era uma disenteria, uma cólera.
Segundo o especialista, doutorando em análise toxicológica pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), esse resultado é obtido com pequenas doses do elemento químico.
O composto trióxido de arsênio, conhecido como arsênico, não tem gosto, mas algumas literaturas apontam que o metal pode ter um gosto adocicado. O especialista acrescenta que, por ser um produto clandestino no Brasil, o arsênio pode estar misturado com outras substâncias e que podem alterar o sabor.