A criminóloga, roteirista e escritora Ilana Casoy explicou quais características ajudam a identificar assassinos em série, durante entrevista concedida na manhã desta quarta-feira (15) ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha. Ela comentou sobre o caso do bolo envenenado em Torres, que chocou o país ao causar a morte de três pessoas de uma mesma família.
A principal suspeita do crime é Deise Moura dos Anjos, 42 anos, que está presa. O motivo seria uma desavença com a sogra, Zeli Teresinha Silva dos Anjos, 61 anos, responsável por preparar o doce. Deise também é investigada pela morte de Paulo Luiz dos Anjos, marido de Zeli, falecido em setembro de 2024, igualmente por envenenamento.
— Dentro do estudo do comportamento criminoso, temos os assassinos em massa, que matam quatro ou mais vítimas em um único local e evento. E dentro dos assassinos em massa tem o que ela (Deise) seria, que são aniquiladores de família, porque tentam matar a família inteira em um único evento. E aí a gente começa a descobrir que isso pode ter começado anos antes com outras vítimas individuais, o que também a caracteriza como assassina em série. Não é só uma coisa outra — explicou a escritora.
Veja trecho da entrevista:
Ao tratar especificamente de Deise, a escritora analisou o comportamento da suspeita à luz de estudos sobre perfis de mulheres assassinas. Segundo a escritora, existem categorias como as chamadas viúvas negras, os anjos da morte, caso de enfermeiras que acreditam estar enviando seus pacientes para o céu, além de predadoras sexuais, das vingadoras, das que agem por lucro, as insanas, que são doentes mentais, e as incompreensíveis, as que não se encaixam em nenhuma das classificações anteriores.
— Mulheres não matam por amor, mas por dinheiro, o que, infelizmente, é respaldado por estatísticas — diz Ilana.
— Claramente, ela (Deise) tem uma questão vingativa. Então talvez se encaixasse melhor na definição das vingadoras, as que matam obcecada por ódio, amor ou ciúme. É o que parece, se é que é culpada, já temos que deixar a presunção de inocência no ar — completou.
Ilana também destacou o método usado: segundo ela, 80% das mulheres que matam usam veneno.
— Outra coisa que que me chama atenção é que os homens, em geral, matam desconhecidos, e mulheres matam conhecidos. Quando você pega um serial killer do sexo masculino, ele não conhece a vítima dele. Na maior parte dos casos analisados, eles não conhecem ninguém. Tipo o Maníaco do Parque. No caso da Suzane Von Richthofen as vítimas são os pais e da Elise Matsunaga é o companheiro — exemplifica.
Ainda sobre Deise, a criminóloga destacou a necessidade de entender o perfil psicológico da suspeita para investigar de forma eficiente.
— Ela precisa ser examinada por um psiquiatra, um psicólogo. Não dá para dar um diagnóstico psiquiátrico sem isso — pontuou.
Psicopatas
Ilana explicou também que existem categorias de psicopatas e que o diagnóstico exige cautela.
— Psicopatia é um transtorno, não uma doença. Menos de 1% da população mundial é psicopata, mas há graus de psicopatia. Quando falamos de assassinos em massa ou em série, estamos lidando com um grau que ultrapassou qualquer limite aceitável — completou.
Por fim, a criminóloga também enfatizou a importância de políticas de inclusão e educação para prevenir que pessoas com esse perfil ajam na criminalidade.
— Educação é um fator fundamental, mas os resultados não aparecem de imediato. Por isso, a prevenção demanda trabalho a longo prazo — finalizou.
Relembre o caso
O episódio que matou três pessoas aconteceu em 23 de dezembro de 2024, quando Zeli Teresinha Silva dos Anjos, moradora de Arroio do Sal, preparou um bolo para uma confraternização familiar de fim de ano. A sobremesa fazia parte de uma tradição e foi compartilhada com outros cinco membros da família. No entanto, por volta das 18h, todos começaram a passar mal.
Três familiares de Zeli faleceram: suas irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, e Maida Berenice Flores da Silva, 59, além de sua sobrinha, Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47. Outras duas pessoas, incluindo Zeli e o neto de 10 anos, foram hospitalizadas, mas receberam alta posteriormente.
Investigação conduzida pela Polícia Civil revelou a presença de arsênio na farinha utilizada no preparo do bolo e nos corpos das vítimas. O elemento químico também foi identificado como a causa da morte do marido de Zeli, Paulo Luiz dos Anjos, em setembro de 2024.
A nora de Zeli, Deise Moura dos Anjos, foi presa como principal suspeita do envenenamento.