O Ministério Público pediu que a Secretaria Estadual de Saúde informe às vigilâncias municipais sobre a necessidade de recolher dois lotes de leite adulterados. São produtos embalados pela empresa Dielat, alvo da operação Leite Compen$ado na manhã desta quarta-feira (11).
Conforme o promotor Alcindo Bastos, outras amostras serão analisadas ao longo do dia e mais lotes podem ser identificados.
— Isso vai ser disseminado para as vigilâncias municipais para que esses identificados por lote e validade sejam retirados dos mercados — disse.
Nesses dois lotes, foi identificada a presença de soda cáustica. O produto é usado para camuflar leite azedo que deveria ser descartado. A investigação também apurou que a Dielat, com uso de outra marca, a Agrovita, vendia os produtos para prefeituras do Rio Grande do Sul.
As cidades com contrato são:
- Alvorada
- Ivoti
- Taquara
- Gravataí
- Viamão
- Porto Alegre
- São Paulo
Todos os municípios foram comunicados para revisarem os contratos. A empresa também tinha autorização para exportar leite, tendo a Venezuela como destino no Exterior.
Cinco pessoas foram presas no desdobramento desta quarta-feira, incluindo uma funcionária da Dielat, detida em flagrante. Os presos com mandados expedidos são:
- Sócio-proprietário da empresa, Antonio Ricardo Colombo Sader
- Diretor Tales Bardo Laurindo
- Supervisor Gustavo Lauck
- Engenheiro químico Sérgio Alberto Seewald
Contraponto
A defesa de Sérgio Alberto Seewald sustenta que "ele não possui relação formal ou informal com a empresa Dielat". Segundo o advogado Nicholas Horn, "trata-se de uma criação de fatos por parte do Ministério Público, que não enseja a verdade". Ele acrescenta que "todas as medidas necessárias para a sua soltura estão sendo tomadas".
A reportagem tenta contato com as defesas da Dielat e dos demais investigados.
Nota do Sindilat
O leite é um produto nobre, produzido com zelo e cuidado por milhões de pessoas no mundo. Casos como o denunciado nesta quarta-feira (11/12) pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP) referente à suposta adulteração precisam ser apurados com rigor, e os responsáveis punidos. O Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat) repudia com veemência qualquer tipo de adição indevida ao alimento, um procedimento que vai na contramão de um trabalho meticuloso e diário adotado por produtores, transportadores e indústrias nos últimos anos para elevar os padrões de qualidade no Rio Grande do Sul.
O leite gaúcho hoje é o mais fiscalizado do Brasil, procedimentos regrados por legislações federal e estadual em diferentes instâncias e órgãos de controle, a exemplo do Ministério da Agricultura, Anvisa, Secretaria da Agricultura, entre outros. Todas as cargas que chegam às empresas passam por testes físico-químicos em diferentes etapas do processo produtivo e os resultados estão constantemente à disposição das autoridades. Qualquer ação adotada no intuito de burlar o sistema posto é rechaçada em coro por todos os agentes do setor produtivo e deve ser punida.
Relembre as 12 fases anteriores
- Operação Leite Compensado 1 — Maio de 2013
Para mascarar a adição de água durante o caminho entre o produtor e a indústria, transportadores adicionavam ureia — que contém formol — com o objetivo de obter maior lucro. Cerca de cem toneladas de ureia — apreendidas na ação realizada no Norte, Noroeste e Serra — foram adquiridas pelos envolvidos para utilização na prática criminosa. Autoridades cumpriram 10 mandados de prisão e oito de busca e apreensão.
- Operação Leite Compen$ado 2 — Maio de 2013
Cinco mandados de prisão preventiva foram cumpridos em Rondinha — com três presos — e Boa Vista do Buricá, no Norte, e em Horizontina, no Noroeste, com a prisão de Larri Lauri Jappe, então vereador do PDT e empresário do setor de transporte de leite cru. Foi encontrada até uma fórmula para adulteração do leite em Boa Vista do Buricá.
- Operação Leite Compen$ado 3 —Novembro de 2013
Preso um transportador e detectada a presença de água oxigenada no leite. Ação em Três de Maio, no Noroeste.
- Operação Leite Compen$ado 4 — Março de 2014
Ação em oito cidades com a prisão de um empresário em Condor, no Norte. Com ele, foi apreendida mais de meia tonelada de soda cáustica. Ações em Bossoroca e Vitória das Missões, nas Missões, Santo Augusto, no Norte, Ijuí e Panambi, no Noroeste, Tupanciretã e Capão do Cipó, na Região Central.
- Operação Leite Compen$ado 5 — Maio de 2014
Foram cumpridos três mandados de prisão em 10 cidades do Vale do Taquari e Vale do Sinos, em especial Imigrante e Paverama, sede das indústrias de laticínios Hollmann e Pavlat. Foram presos os proprietários das duas empresas. Eles foram investigados por dar ordens para adição de soda cáustica, bicarbonato de sódio e água oxigenada no leite. Também houve ações em Teutônia, Arroio do Meio, Encantado, Venâncio Aires, Marques de Souza, Travesseiro, Novo Hamburgo e Cruzeiro do Sul.
- Operação Leite Compen$ado 6 — Junho de 2014
Fraude do leite com ramificação no Paraná e quatro presos. A operação ocorreu nas cidades paranaenses de Londrina e Pato Branco e nos municípios gaúchos de Ijuí, Taquaruçu do Sul, Ibirubá, Campina das Missões, Alegria, Boa Vista do Buricá, Crissiumal, São Valério do Sul, São Martinho, Cruz Alta e Coronel Barros.
- Operação Leite Compen$ado 7 — Dezembro de 2014
Posto de resfriamento é interditado em Jacutinga, no norte gaúcho, e outro fica em regime de fiscalização. Havia adição de sal no leite adulterado com água. Foram cumpridos 17 mandados de prisão e outros 17 de busca e apreensão em seis municípios gaúchos: Erechim, Jacutinga, Maximiliano de Almeida, Gaurama, Viadutos e Machadinho, todos no Norte.
- Operação Leite Compen$ado 8 — Maio de 2015
Oito prisões e produtos químicos apreendidos no norte do Estado. Áudios revelam tentativa de repassar leite com larvas. Suspeitos eram donos de transportadora e motoristas. Havia adição de ureia, álcool e soda cáustica.
- Operação Leite Compen$ado 9 — Setembro de 2015
Leite azedo era vendido como saudável. Houve quatro prisões nos municípios de Esmeralda, na Serra, e Água Santa, no Norte.
- Operação Leite Compen$ado 10 — Outubro de 2015
Donos de fábrica presos por adulteração do leite. A ação ocorreu de forma simultânea com a Operação Queijo Compensado 2. Os municípios onde ocorreu o cumprimento de ordens judiciais foram Venâncio Aires, Lajeado, Mato Leitão, Arroio do Meio, Montenegro e Carlos Barbosa.
- Operação Leite Compen$ado 11 — Julho de 2016
Resultados positivos para a presença de coliformes fecais, água oxigenada e amido. A ação foi junto com a Operação Queijo Compensado 4. Cinco prisões e ações em São Pedro da Serra e Caxias do Sul, na Serra, em Estrela, no Vale do Taquari, além de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos.
- Operação Leite Compen$ado 12 — Março de 2017
Nova Araçá, na Serra, Casca e Marau, no Norte, Estrela e Travesseiro, no Vale do Taquari. Houve cinco prisões e quatro mandados de busca cumpridos em três laticínios. Áudios dos suspeitos, em tom de deboche, revelaram que carregamentos de leite só poderiam ter como destino a alimentação de animais.