A Polícia Civil abriu inquérito para identificar criminosos envolvidos no chamado golpe do link, aplicado contra lojistas de Porto Alegre e da Região Metropolitana. O assunto está sendo apurado pela Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações do Departamento Estadual de Investigações Criminais.
A modalidade consiste na utilização, por parte dos estelionatários, dos dados de outras pessoas para realização de compras pela internet. Quando os titulares dos cartões de crédito se dão conta do uso indevido, acionam as operadoras, informam não ter feito as compras e solicitam a devolução do dinheiro. Quem sai perdendo são os vendedores, que ficam sem o pagamento e os produtos, levados pelos criminosos antes do cancelamento.
Uma das vítimas é Anderson Cantoni, que tem uma pequena marcenaria em Alvorada. Ele conta que os clientes costumam entrar em contato com ele pela internet. Em uma dessas conversas, o suposto cliente pediu o orçamento de três conjuntos para banheiro. O negócio foi fechado por aproximadamente R$ 3 mil.
— Na hora de combinar, de passar os dados para eu fechar o pedido e colocar em produção, o cliente disse que morava longe e que retiraria o produto na marcenaria. Pediu se já poderia fazer o pagamento antecipadamente. Na hora eu topei. Ele fez o pagamento, recebi a confirmação da operadora do cartão e dei início à produção — relata o microempreendedor.
Após 10 dias, os móveis ficaram prontos. Eles foram retirados por outra pessoa, que assinou o canhoto de entrega.
— Dois dias depois, eu recebi uma mensagem da operadora do cartão dizendo que aquela venda havia sido cancelada. Avisei que já tinha entregue e até gasto o dinheiro do pedido. A operadora não aceitou, fiquei com crédito negativo em cerca de R$ 3 mil.
Anderson nunca mais vendeu usando link de pagamento. Outras pessoas já entraram em contato com ele para comprar fazendo uso dessa ferramenta digital, mas o vendedor negou todas as ofertas por medo de, novamente, perder dinheiro.
Prejuízo de quase R$ 20 mil
Quem também se tornou alvo dos criminosos Carlos Klein. A loja de moda masculina administrada por ele possui unidades em Porto Alegre e em Canoas e tem grande atuação na internet. Muitas pessoas, ao se interessarem nos produtos, clicam nos anúncios e são redirecionadas para uma conversa no WhatsApp. E é lá que, por vezes, os clientes solicitam links de pagamento para efetuar a compra.
— O link de pagamento tem uma exigência muito grande de preenchimento de dados. Tem endereço, identidade, CPF, número do cartão, código de verificação, vencimento. É bastante exigente. Isso nos deixa bastante tranquilos de que a ferramenta é confiável. Porém, esses dados, depois descobrimos, podem ser fraudados. Quando o cliente tem seu cartão fraudado, o bandido consegue roubar não só as informações do cartão, mas todos os dados do proprietário para efetuar a compra — explica.
Segundo o empresário, quando o cliente solicita que o produto seja entregue, é possível rastrear o endereço do destinatário. Por isso, os golpistas atuam preferencialmente com retirada presencial. Ele conta que em quatro vendas a loja somou prejuízo de R$ 17 mil.
Orientação aos lojistas
A preocupação do setor aumenta com relatos de que essa modalidade de golpe tem sido aperfeiçoada. Fotografias e documentos são manipulados digitalmente, tornando mais difícil identificar a prática criminosa.
Carlos Klein, que também é vice-presidente de Relações Políticas do Sindilojas Porto Alegre, afirma que, com a chegada do mês de dezembro e das festas de fim de ano, a necessidade de cautela se torna ainda maior. Além de uma maior procura e venda de produtos, as investidas criminosas também tendem a aumentar.
— Um lojista exigiu a comprovação da autenticidade e o criminoso baixou nas redes sociais uma foto da portadora do cartão de crédito. Ele criou uma montagem em que a mulher segurava a própria identidade. Fica muito difícil identificar a falsidade. Estamos nos recuperando de uma época bastante complicada e aí fazemos a venda no cartão justamente para não ter inadimplência, pagamos um porcentual significativo para a operadora e, quando a gente se dá conta, estamos envolvidos num golpe que traz um prejuízo enorme — desabafa o empresário.
A principal orientação, ao ser lesado por esse tipo de crime, é registrar boletim de ocorrência por estelionato.