A execução de um homem em agosto deste ano em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, levou a Polícia Civil a identificar suspeitos de envolvimento neste crime e a facção criminosa que estaria por trás dele. Contra este grupo, investigado por homicídios e tráfico de drogas, é desencadeada na manhã desta quarta-feira (6) a Operação Arqueiro. São cumpridas 34 ordens judiciais, sendo 12 de prisão preventiva e 22 mandados de busca e apreensão.
Os mandados são cumpridos em Novo Hamburgo, São Leopoldo, Charqueadas, Montenegro, Campo Bom e Estância Velha. A ação conta com apoio da Brigada Militar e da Coordenaria de Recursos Especiais (Core). Dos alvos, um é considerado líder da organização e outro gerente geral — ambos já estão presos, mas tiveram novas ordens de prisão cumpridas. Os outros foram identificados como executores e integrantes da facção vinculados ao esquema de tráfico de drogas. Até as 7h30min, nove pessoas tinham sido presas.
O crime que deu início a essa investigação aconteceu em 18 de agosto deste ano. Um homem de 38 anos foi executado a tiros dentro de um carro no bairro Lomba Grande, em Novo Hamburgo. Ao longo da investigação a equipe da Delegacia de Homicídios do município identificou que a vítima teria sido morta pela facção que domina o tráfico na região. Na mesma semana do crime, foi apreendido um celular com o suspeito de ser o mandante.
Ordem para reconstruir muro
Após a apreensão deste aparelho, a polícia obteve informações que levaram à identificação e prisão de um dos executores, e de outros investigados por tráfico de drogas. A vítima foi executada, conforme a polícia, por se recusar a cumprir ordem do gerente do grupo.
— Durante as investigações, apurou-se que a vítima foi responsável pela queda de um muro no bairro Feitoria, em São Leopoldo. A localidade sofre influência de uma organização criminosa, que determinou à vítima a reconstrução do muro objeto de discussão — explica a delegada Marcela Ehler, titular da DHPP de Novo Hamburgo.
Depois disso, o homem foi vítima de uma emboscada a tiros e foi executado. Para a polícia, o crime foi motivado por esse descumprimento. Os delitos apurados na investigação são homicídio, tráfico de drogas e associação para o tráfico. Em relação ao homicídio, a polícia entendeu que o crime foi cometido por motivo fútil e praticado por meio de uma emboscada.
— Eles têm esse trâmite de acuar a comunidade, e ficar dando ordens. Esse grupo mantém uma organização muito rígida dos pontos de tráfico, com controle de horário de abertura e fechamento. Impondo regramentos de convívios, que tiram a paz da comunidade ali. A nossa equipe aprofundou a investigação desse homicídio para identificar os envolvidos com essa facção que insiste em determinar mortes ali — diz o diretor do DHPP, delegado Mario Souza.
Áudios
Durante a investigação, a polícia obteve gravações dos investigados nas quais eles falam sobre a movimentação do grupo. Conforme a polícia, um dos assuntos discutidos é o funcionamento dos pontos de comércio de drogas.
— Eu só quero que eles se organizem, entendeu, como os vendedor, os gerente. A loja é 24 horas, mano — cobra o investigado.
Em outro áudio, outro apontado como um dos gerentes reclama que uma das "lojas", que segundo a polícia são os pontos de tráfico, estava parada.
— O respeito tem que ter, meu velho. No momento que não tem respeito, daí vira bagunça, cara — diz.
As mensagens teriam sido gravadas de dentro do sistema prisional.
Líder preso em mansão com granadas
Um dos investigados alvo da operação desta quarta-feira foi capturado em agosto deste ano pela Polícia Civil gaúcha em Santa Catarina. Atualmente, ele é mantido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) e teve novo mandado de prisão cumprido na operação desta quarta-feira. Apontado como um dos líderes do grupo, quando foi preso em agosto o então foragido estava vivendo num condomínio de casas em Balneário Camboriú, no litoral catarinense.
O paradeiro do investigado foi descoberto pela equipe do Departamento de Homicídios. O local onde Josemar dos Santos, 45 anos, conhecido como Gandula, foi encontrado era uma mansão, que teria sido alugada. Na garagem da residência, foi encontrada uma BMW, que teria sido comprada com dinheiro vivo. O veículo foi avaliado em R$ 300 mil.
Ao entrarem na residência, os agentes deram voz de prisão para Gandula, que usava outro nome, conforme documentos falsificados apreendidos. Os agentes encontraram, dentro da casa, duas pistolas calibre 9 milímetros, seis carregadores, 142 estojos, e três granadas de mão com alto poder de destruição. Também foram apreendidos o automóvel, um seletor de rajadas para armas, quatro celulares e os documentos falsos.
Com 40 anos de condenação, o preso possui antecedentes por homicídios, tráfico de entorpecentes, porte ilegal de arma de fogo, roubo a estabelecimento comercial, roubo a residência, lesão corporal, uso de documento falso, organização criminosa, entre outros. Em maio deste ano, Gandula teve concedida a prisão domiciliar humanitária, mediante monitoramento eletrônico pelo prazo de 90 dias.
Entretanto, segundo a polícia, no dia 16 de maio, ele foi considerado foragido, em razão da falta de comunicação do dispositivo eletrônico. A informação era de que poderia estar no Estado vizinho e a fuga teria ocorrido ao saber de dois mandados de prisões preventivas contra ele. GZH tenta contato com a defesa do investigado.