A Polícia Civil investiga se houve racismo durante abordagem a um jovem que trabalha em uma ferragem no centro de Porto Alegre. Dois guardas municipais são suspeitos de permitir a fuga de um homem que teria o incriminado pelo roubo de uma corrente e de um celular. O caso ocorreu na última segunda-feira (24).
A pessoa que diz ter sido vítima é Andrei Santos, de 26 anos. Ele trabalha há cerca de cinco meses na ferragem, localizada na Avenida Júlio de Castilhos. Ele conta que estava de intervalo e resolveu sair para fazer compras em uma loja quando foi abordado por um indivíduo. O suspeito, segundo ele, começou a acusá-lo de roubo.
— Não tinha dado nem vinte segundos que eu havia saído da loja. O cara me pegou pelo pescoço e falou: “cadê minha correntinha e o meu celular que tu roubou?”. Eu disse que estava trabalhando, que não tinha roubado, mas ele insistiu — relata Santos.
O trabalhador conta que decidiu levá-lo até a loja para que seus colegas comprovassem que ele passou o dia no serviço e não teria cometido o crime. Mas a medida não teria adiantado. Conforme o jovem, o suspeito que o abordou seguiu insistindo que havia sido roubado por ele.
A situação fez com que um tumulto se formasse em volta deles. Na sequência, dois guardas municipais chegaram ao local. Nessa altura, o suspeito estava sendo segurado por Santos e um colega. Os dois relataram aos guardas o que havia ocorrido, e disseram que pretendiam levá-lo à delegacia.
No entanto, segundo Santos, os guardas municipais solicitaram que o suspeito do crime de racismo fosse solto e ameaçaram efetuar golpes de cassetete contra ele e o colega.
— Eles tentaram nos agredir, a gente seguiu tentando segurar o cara. Mas eles conseguiram fazer a gente soltar e mandaram ele embora. Aí saiu correndo. Não conseguimos nem tirar foto — conta.
Santos disse ainda que os dois guardas debocharam dele e de seus colegas antes de deixarem o local.
— Nós pedimos as identificações e eles recolheram os nomes que estavam no uniforme. Depois começaram a rir da gente, dizendo que não ia dar em nada. Eu fiquei muito triste. Nunca havia acontecido algo assim comigo — lamenta.
No dia seguinte (25) Santos registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Combate à Intolerância. A delegada Andréa Mattos abriu um inquérito iniciou as investigações na última quinta-feira (28).
— Recebemos a ocorrência como um caso de racismo, mas isso não significa que eles responderão por esse crime. Ainda é cedo para chegarmos a qualquer conclusão — afirma. Câmeras de segurança estão sendo coletadas nos comércios da região para tentar identificar o homem que teria iniciado a confusão.
O comandante da Guarda Municipal, Marcelo Nascimento, afirma que um procedimento administrativo interno foi instaurado para apurar a conduta dos dois servidores.
— É sempre importante ressaltar o nosso compromisso de servir a população. Qualquer tipo de discriminação ou preconceito, se comprovando esse tipo de prática por parte de alguns dos nossos servidores, as condições serão exemplares com relação a isso — afirma.
Ainda conforme o comandante, no relatório diário enviado pela dupla consta que os dois estavam na região pela frequente atuação na área do quadrilátero central e foram chamados para averiguar uma briga.
— Eles nos disseram que foram até aquele local por algumas pessoas afirmarem que estava havendo uma briga. Quando chegaram lá se depararam com uma grande confusão onde o homem estaria sendo agredido e depois acabou fugindo. Relataram ainda que a população que estava ali se voltou contra a guarnição afirmando que se tratava de uma prática de racismo praticado por aquele homem e que a guarnição não conseguiu efetuar a detenção dada a grande confusão — comenta o comandante.
Os dois servidores foram ouvidos pela polícia nesta sexta-feira (28) e reafirmaram a versão encaminhada à instituição, negando qualquer viés racista na abordagem. Nos próximos dias, os agentes devem colher os depoimentos dos funcionários da ferragem.