Uma moradora do bairro Santana, em Porto Alegre, retornava do mercado para casa na tarde de 10 de setembro, quando foi surpreendida por um assaltante. O criminoso saltou de dentro de um veículo e ameaçou a mulher, de 27 anos, com uma arma, caso ela não entregasse o celular. Este é um dos roubos a pedestres registrados na região, que levou moradores a se mobilizarem nesta semana por mais segurança. A Brigada Militar confirmou reforço no policiamento.
Um veículo estava estacionado do outro lado da Rua São Luís, no trecho entre a Veador Porto e a Luiz de Camões, quando a moradora passou caminhando no retorno para casa, por volta das 17h. Foi naquele momento que o criminoso saiu do carro e ameaçou a vítima.
— Ele apontou a arma, falou para entregar o celular. Se não entregasse, ia atirar na minha cabeça — recorda.
Moradora do local há três anos, ela nunca havia passado por algo parecido. Depois do assalto, procurou a polícia, que passou a investigar o caso. Quase um mês depois, ainda convive com o trauma do episódio violento.
— É uma sensação de impotência. Toda hora que vou sair de casa, é uma insegurança. Não tem como saber se ele não vai estar na rua, armado — diz a moradora, que pediu para não ser identificada.
Bem perto dali, uma família também convive com o trauma de ter sido vítima do mesmo tipo de crime. No fim da tarde do sábado, 24 de setembro, um homem de 33 anos saiu para passear com a esposa, de 36, e a filha deles, uma bebê de um ano. Naquele momento, já havia relatos de roubos na região, o que deixou o casal um pouco reticente, mas, como a menina está aprendendo a caminhar, decidiram aproveitar o dia de sol e fazer um trajeto próximo de casa, na Rua Domingos Crescêncio.
Enquanto caminhavam pela calçada, pouco depois das 18h, a menina parou para observar algo na grama. A mulher estava entretida com a filha, enquanto o marido permanecia um pouco mais afastado, atento ao que se passava ao redor. Foi naquele momento que os dois assaltantes surgiram, de armas em punho.
— Passa o celular e dinheiro, senão eu vou te matar — ameaçou um dos bandidos.
— Ele começou a me revistar. Minha esposa, que estava com o celular dela no bolso, pegou a nenê no colo, protegendo, e jogou o celular dela na grama — narra o morador.
O criminoso não se convenceu e tentou abrir o casaco do homem, mas o zíper travou, o que deixou o assaltante mais irritado.
— Tira esse casaco, seu... (xingou a vítima), que sei que tem alguma coisa — intimidou.
Quando conseguiu arrancar o casaco da vítima, o criminoso fugiu correndo, junto do comparsa. O caso foi registrado pela Delegacia Online da Polícia Civil. Depois do episódio, o casal só consegue sair de casa de carro e, mesmo assim, revive constantemente as cenas.
É como se estivesse saindo para uma guerra. Olha para todo lado, no sinal fica de olho, não consegue ficar com a nenê nem na área de fora do prédio. É muito tenso. Faz uns 10 dias. Não tem uma hora que não pense na situação
MORADOR DE 33 ANOS
Vítima de assalto
— É como se estivesse saindo para uma guerra. Olha para todo lado, no sinal fica de olho, não consegue ficar com a nenê nem na área de fora do prédio. É muito tenso. Faz uns 10 dias. Não tem uma hora que não pense na situação — diz o morador.
Segundo o delegado Ajaribe Rocha Pinto, da 10ª Delegacia de Polícia, todos os casos de assaltos registrados no Santana nesse período estão sob investigação. Os criminosos em geral têm o mesmo objetivo, que é levar os celulares das vítimas e, em alguns casos, dinheiro.
A polícia identificou pelo menos quatro casos de assaltos a pedestres nos quais foi apontado o mesmo veículo empregado no roubo à nutricionista: um Peugeot prata. A investigação conseguiu identificar um homem, suspeito de ser o autor desses assaltos, e pediu a prisão do investigado, mas conforme o delegado, a solicitação foi negada pela Justiça. Com novos casos de roubos investigados, a polícia pediu novamente a prisão do mesmo investigado e no momento aguarda decisão judicial.
Insegurança
Alguns dos assaltos relatados pelos moradores foram registrados por câmeras da região. Num deles, um assaltante ataca duas pessoas em sequência na Rua Domingos Crescêncio. De um lado da via, aponta uma arma para uma das vítimas e pega o que parece ser o celular. Logo depois, dispara na direção oposta e ataca outra mulher. O caso, segundo a BM, teria acontecido em 20 de setembro.
Moradora da Rua Domingos Crescêncio há mais de 40 anos, uma comerciante conta que nunca presenciou esse tipo de violência antes.
— De um mês para cá, começaram a assaltar a mão armada, em plena luz do dia. Está todo mundo com medo. Minhas clientes, mais idosas, que vinham aqui, estão com medo de vir. Está horrível nosso bairro. Costumávamos sair e chegar em casa de noite, até de madrugada, com segurança. E hoje em dia todo mundo está com medo. Está horrível — lamenta.
Mobilização dos moradores
Foram esses relatos de assaltos que levaram a comunidade a se mobilizar pedindo mais segurança. Na semana passada, moradores estiveram no 19º Batalhão de Polícia Militar, e, na última segunda-feira (3), foram ao 9º BPM. O advogado Lucas Fuhr, vereador suplente na Capital e ex-diretor do Procon-RS, que reside no bairro, é um dos que está engajado na busca por segurança.
— Não estávamos acostumados a sentir esse medo. Tínhamos percepção de que o bairro era seguro, até essa onda. Queremos recuperar a tranquilidade do nosso bairro, ter sensação de segurança de volta. Aqui é um bairro com serviço hospitalar e muitos moradores idosos, mais vulneráveis — diz o morador.
Um dos receios é de que um caso de assalto a pedestre possa vir a resultar em algo ainda mais grave, que é o roubo com morte. Em um dos crimes registrados, o assaltante chegou a disparar um tiro para o alto, para assustar as vítimas.
— A própria BM diz que é muito perigoso um assalto a mão armada, porque pode virar um latrocínio. Dependendo, se a pessoa reage ou do grau de violência do assaltante, pode gerar um dano à vida — afirma Fuhr.
Segundo o morador, durante a reunião, foram relatados alguns assaltos que não tinham chegado ao conhecimento da Brigada Militar. Por isso, ressalta a importância de que as vítimas registrem os fatos, para que se possa identificar os casos.
— A BM tem dado uma resposta boa. Estamos preocupados, mas satisfeitos com a resposta da BM, mas tendo o boletim de ocorrência consegue agir mais rápido — diz Fuhr.
Reforço no policiamento
Comandante do 9º BPM, o tenente-coronel Fábio da Silva Schmitt também reforça a importância de as vítimas procurarem a polícia e registrarem os fatos. Segundo o oficial, no mês de setembro, somente dois casos de assaltos na Rua Domingos Crescêncio chegaram ao conhecimento da BM, embora o relato dos moradores seja de mais fatos.
— No mês de julho, foram cinco casos, em agosto, nenhum, e em setembro, dois. Pelos registros, não tinha uma situação que nos chamasse a atenção. Foi algo que abordamos com os moradores, a necessidade do registro. Mas vamos intensificar o policiamento na região — garantiu o comandante.
Conforme o tenente-coronel, o incremento deve se dar por meio do uso de motocicletas e também com mais viaturas circulando pela região.
Dicas
- Não manuseie aparelhos de celular em locais de grande concentração de pessoas. Isso faz com que a própria vítima perca atenção ao seu redor e também desperta a atenção dos bandidos
- Se precisar utilizar o celular na rua, procure ingressar em algum comércio, como uma loja
- Evite deixar expostos itens como joias ou relógios, que podem despertar o interesse dos criminosos
- Cuide para que bolsas e mochilas permaneçam fechadas e no seu campo de visão
- Evite permanecer sozinho em paradas de ônibus, especialmente à noite
- Quando estiver caminhando pela rua, fique atento a quem está ao seu redor. Se possível, evite trechos com pouco movimento ou baixa iluminação
- Se for vítima de roubo, tente manter a calma e evite reagir. Procure a Brigada Militar ou a Polícia Civil e registre o fato
Fonte: Polícia Civil-RS