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Um esquema de agiotagem pode estar por trás do ataque a tiros que resultou na morte de uma criança de seis anos em Imbé. Na manhã desta quarta-feira (10), Brigada Militar e Polícia Civil cumpriram mandados de busca e apreensão no Litoral Norte e no Vale do Sinos. A operação faz parte da apuração que tenta elucidar o assassinato de Bryan Vidal Ferreira, filho de um policial militar da reserva, que morreu após ser baleado dentro de casa.
No fim da manhã, em coletiva de imprensa, os policiais detalharam a ofensiva realizada nesta quarta-feira. Foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão e uma pessoa foi presa em flagrante. As ações ocorreram em Imbé, Tramandaí, Capão da Canoa, e também em Campo Bom, no Vale do Sinos. O preso é um colombiano de 45 anos, detido numa casa em Tramandaí com dinheiro falso.
Durante a ação, foram localizados cerca de R$ 15 mil, em peso colombiano, euro e dólar e algumas notas falsas de reais. Segundo a polícia, um grupo de colombianos está envolvido em um esquema de agiotagem — prática ilegal de emprestar dinheiro com juros elevados. Na semana passada, um outro colombiano foi assassinado em Capão da Canoa. O homem de 30 anos seguia em uma motocicleta às margens da Estrada do Mar, quando foi atingido a tiros. Segundo a polícia, há suspeita de que este homem estivesse atuando como agiota.
— Na segunda-feira, tínhamos já elementos que comprovaram a conexão entre esses dois fatos (do crime de Capão da Canoa com o ataque à casa em Imbé), envolvendo esses colombianos, que se dedicam aqui no Litoral, como também em outras regiões do Estado e outros Estados, à agiotagem. Eles estão organizados, ou seja, integram organização criminosa, onde emprestam dinheiro a juros abusivos. E para essa cobrança eles se valem da extorsão. Houve um desacerto entre eles, isso tudo partindo com ligação direta da Colômbia. Aqui no nosso país eles lavam dinheiro. Esse dinheiro que eles acabam emprestando é de lavagem — afirmou o delegado Antônio Carlos Ractz durante a coletiva.
Segundo o policial, os criminosos que atacaram a residência da família efetuaram mais de 50 disparos com pistolas. Ractz afirmou que os atiradores só não mataram todos que estavam na casa porque acabaram as munições. Havia seis pessoas na residência no momento do crime. O alvo do ataque seria outro colombiano, companheiro da neta do policial militar aposentado, que conseguiu escapar do local.
— Uma criança, de apenas seis anos, estava brincando e vendo TV num domingo à tarde, na sua casa, com um irmão autista, com os pais, quando entram aqueles indivíduos, efetuando série de disparos, ela corre para os braços dos pais, e é morta na frente dele. Isso tem de ter uma resposta, independentemente do filho de quem fosse — disse Ractz.
A polícia ainda tenta esclarecer o que motivou o ataque, embora já saiba que esteja vinculado às ações do grupo. Pode se tratar de represália ou mesmo de desentendimento entre os envolvidos no esquema criminoso. Tanto o colombiano assassinado em Capão da Canoa, quanto o que estava na moradia da família atacada, eram moradores de Imbé. A polícia ainda tenta localizar o homem que escapou dos disparos na casa do PM.
Sobre o homicídio de Capão da Canoa, o delegado informou que o caso está elucidado e que a investigação está prestes a desvendar a autoria do ataque em Imbé. Embora o caso envolva estrangeiros, os atiradores que atingiram a criança eram brasileiros, segundo a polícia. Na operação desta quarta-feira, foram apreendidas ainda três motocicletas, capacetes e roupas que teriam sido utilizadas durante os homicídios, além de celulares. Uma das motos, encontrada em Tramandaí, teria sido usada no homicídio em Capão da Canoa.
A polícia apreendeu também na ação documentos que indicam o envio de dinheiro de volta para a Colômbia. O homem preso em flagrante ainda será interrogado pela polícia, assim como testemunhas e suspeitos que serão ouvidos sobre esses fatos.
O ataque

Imagens de câmera de segurança flagraram o momento em que três homens armados chegam à casa em um Ka, sendo que dois deles descem do carro e entram na residência já atirando no fim da tarde do último domingo. Havia seis pessoas no local, mas somente Bryan e o pai dele teriam sido feridos. Após o crime, os criminosos fugiram e abandonaram o automóvel em um terreno baldio na cidade. Eles também atearam fogo ao carro.
A Brigada Militar lamentou a perda, em nota: "A Brigada Militar e a família brigadiana reiteram seus sentimentos aos familiares e amigos da criança e reforça que, desde o ocorrido, tem reunido os recursos humanos e materiais necessários para responder a essa covarde agressão que vitimou um inocente".
A prefeitura de Imbé decretou luto oficial de três dias no município e também emitiu nota. "A morte trágica e precoce do pequeno Brayan nos comove e nos revolta. Confiamos no trabalho da polícia para apuração, localização e responsabilização dos culpados por esta tragédia", diz o texto.