A Polícia Civil investiga um suposto caso de injúria que teria ocorrido em uma escola da rede estadual de ensino de Porto Alegre. Segundo testemunhas, na última sexta-feira (19), alunos do colégio e uma vice-diretora teriam se envolvido em uma discussão durante atividade de integração dos futuros formandos, chamado de Dia D.
O caso teve início quando um grupo de alunos estava reunido fora da sala de aula, segundo informações dos envolvidos. Eles teriam criticado a qualidade de ensino da instituição. Segundo relatos, uma vice-diretora teria respondido a eles que “não daria bola para opinião de chinelão”.
Um dos estudantes, que é negro, afirmou à polícia que o xingamento teria sido feito exclusivamente para ele.
— No contexto da comunidade onde vivo, chinelão se remete a bandido — disse o aluno a GZH.
Houve confusão e a patrulha escolar foi acionada. Dois estudantes foram suspensos e não puderam comparecer às aulas nesta segunda-feira. Um deles registrou boletim de ocorrência na Delegacia de Combate à Intolerância de Porto Alegre.
Segundo a delegada Andrea Mattos, o caso está sendo investigado inicialmente como injúria qualificada.
— A investigação dirá se houve ato de racismo contra o aluno — afirma a delegada.
Com a polêmica, por meio das redes sociais, a escola publicou uma nota de esclarecimento. Segundo o texto, a confusão teria começado quando os alunos teriam desrespeitado o pedido da vice-diretora de retornar à sala de aula.
“Tendo em vista à má vontade em cumprir o que estava sendo pedido a vice-diretora comentou com eles que esse tipo de atividade, o dia D, não poderia mais acontecer, pois não respeitam o horário. Os alunos imediatamente reagiram proferindo impropérios sobre a gestão da escola, entre eles, 'gestão de bosta' e 'porra de salário'. A vice-diretora repetiu uma das expressões pejorativas e após ouvir mais reclamações desrespeitosas dirigiu-se a ambos os alunos chamando-os de 'chinelão', o que segundo o dicionário da língua portuguesa significa: mal educado, desrespeitador, totalmente sem noção”, diz trecho da nota publicada.
Nesta segunda-feira (22), foi realizada uma reunião entre a direção da escola e a 1ª Coordenadoria Regional de Educação do Estado com o objetivo de sugerir medidas e buscar uma solução para o ocorrido.
Segundo a diretora do colégio, que terá o nome preservado por GZH, a vice-diretora envolvida será afastada provisoriamente, para protegê-la até que medidas administrativas sejam adotadas. Além disso, a escola reforçará a formação e capacitação da legislação vigente sobre educação antirracista já inclusa no currículo escolar, afirma a diretora.
Em nota, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) se manifestou informando que já recebeu a denúncia e está analisando o caso. O nome da escola e dos envolvidos não foi divulgado.
Alunos protestaram em frente à escola
Na manhã de segunda-feira (22) cerca de 40 alunos se reuniram na frente da escola para protestar. Conforme a diretora, outro ato está marcado para ocorrer na terça-feira (23).
Para a direção da escola, “o protesto é um ato totalmente equivocado acusando a direção de racista, o que não encontra nenhuma fundamentação. Lamentamos este episódio e desejamos que o ano letivo se cumpra de forma respeitosa e harmoniosa”.