A policial civil Laline Almeida Larratea, 36 anos, que sobreviveu a um disparo de arma de fogo na cabeça, foi vítima do contexto de guerra entre facções do tráfico de drogas que aflige a cidade de Rio Grande, no sul do Estado, desde novembro passado. Na sexta-feira (1º), uma equipe de seis servidores da segurança pública buscava cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão contra um homem suspeito de lavagem de dinheiro, associação criminosa e tráfico de drogas. O indivíduo reagiu à aproximação policial com o disparo que atingiu Laline.
Delegada regional de Rio Grande, Ligia Marques Furlanetto diz que o município está conflagrado desde o final de 2021, quando uma facção criminosa com atuação na Região Metropolitana de Porto Alegre buscou se estabelecer em Rio Grande. Desde então, esse grupo entrou em conflito com outra organização que já atuava na cidade, de caráter local. Três elementos da facção forasteira estão presos na Penitenciária de Rio Grande, diz Ligia, e de lá buscam controlar o crime.
— As forças de segurança entendem como fundamental a transferência desses presos. É para que a gente consiga amenizar essa guerra — avalia a delegada, em alusão às remoções de detentos para cadeias de maior segurança e incomunicabilidade.
Ela destaca o elevado número de ocorrências fatais em Rio Grande: foram 29 homicídios, duas mortes em confronto, um latrocínio e uma lesão seguida de morte somente no primeiro trimestre de 2022.
O homem foi preso em flagrante por tentativa de homicídio qualificado contra um agente de segurança pública. Em depoimento ao delegado Maiquel Fonseca, da Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA) de Rio Grande, ele declarou não ter tido consciência de que se tratava de operação policial.
— Ele disse ter pensado que era um atentado contra ele, e não a polícia, em razão da guerra de facções — comenta Ligia.
A Polícia Civil encaminhou à Justiça um pedido de prisão preventiva contra o homem em função do disparo que alvejou a policial.
— A equipe chegou com duas viaturas ostensivas, com coletes de identificação, como costuma ser nas operações, anunciando que era polícia. A versão dele é de que não sabia, mas, independente de achar se era ou não polícia, ele atirou com a intenção de matar. Quem ele achou que estava matando é irrelevante para o Direito Penal — afirma o delegado Fonseca, que lavrou o flagrante.
A informação da Polícia Civil é de que o homem já foi detido quatro vezes, por motivações criminosas como o tráfico de drogas. A última prisão havia ocorrido em novembro, por posse ilegal de munição e receptação. Atualmente, ele estava sob monitoramento de tornozeleira eletrônica.
Vítima passou por cirurgia de cinco horas
A delegada regional Ligia Marques Furlanetto diz que transcorreu por cinco horas, na sexta-feira (1º), o procedimento cirúrgico para retirar um projétil .40 da cabeça de Laline Almeida Larratea, profissional com dez anos de Polícia Civil. A vítima segue na UTI, em coma induzido.
— Ela está fora de risco de morte, mas segue em observação porque até ontem (sexta) o estado era grave — diz Ligia.
A reportagem contatou a Santa Casa do Rio Grande, onde Laline está sob cuidados médicos, mas a instituição disse que não presta informações sobre o estado de saúde dos pacientes. A delegada regional afirma que a equipe adotou “todas as regras de segurança” para o cumprimento do mandado, salientando que o local e o alvo já eram conhecidos.
— O helicóptero da polícia estava presente na operação. Entre o chamamento e o deslocamento para o hospital, foram menos de 20 minutos. Isso foi fundamental para salvar a vida dela — diz Ligia.