Até esta segunda-feira (31), a Polícia Civil de Canguçu, no sul do Estado, já ouviu mais 13 mulheres que relatam terem sido vítimas do mesmo médico. São pacientes que alegam terem sido abusadas sexualmente durante atendimentos em um hospital e no consultório particular do ginecologista Cairo Barbosa, 65 anos, que já é réu por outros quatros casos de violação sexual mediante fraude. Ele nega ter cometido os crimes.
As novas acusações contra o médico chegaram à polícia após a divulgação, na semana passada, de que o ginecologista responde a processo na Justiça por supostos abusos. Desde então, o delegado César Nogueira, que coordena a investigação, tem sido procurado por pacientes que alegam também terem sido vítimas. Os quatro casos que resultaram no processo contra Barbosa teriam ocorrido entre 2012 e 2017 no Hospital de Caridade de Canguçu e na clínica do médico localizada na área central do município.
Em relação aos fatos informados agora, o delegado prefere não fornecer detalhes. Mas explica que, de maneira geral, as vítimas têm apresentado relatos semelhantes. Segundo a acusação do Ministério Público contra o médico, ele forjava realizar um exame nas pacientes para coleta de material e se aproveitava para abusar delas. As mulheres relatam, por exemplo, que o médico tocava em suas partes íntimas e passava a mão em seus corpos, sem uso de luvas.
Com os 13 depoimentos ouvidos até agora, já são pelo menos 19 mulheres que afirmam terem sido abusadas – as quatro que constam no primeiro processo e duas que foram ouvidas pelo Ministério Público (uma terceira deve ser ouvida nesta segunda-feira). O número de supostas vítimas, no entanto, deve aumentar.
— Hoje pela manhã (segunda-feira, 31) mais uma mulher nos procurou na delegacia. Ainda temos depoimentos agendados para hoje e para amanhã — detalha o delegado.
A polícia apura em relação a esses novos casos quais os tipos de crimes cometidos. O entendimento em relação às quatro vítimas que integram o processo é de que o médico cometeu violação sexual mediante fraude. O crime, diferente do estupro, não depende do uso de violência ou ameaça. É um dos delitos pelos quais, por exemplo, o médium João de Deus responde na Justiça, após mulheres que eram atendidas por ele terem relatado abusos em 2018.
— Esse é um novo procedimento, vamos apurar todas as ocorrências que chegarem e ouvi-lo (o médico) novamente — explica o delegado sobre o caso do médico de Canguçu.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers) informou na semana passada que a conduta do médico será apurada em sindicância. Caso seja constatado que ele cometeu ato ilícito no exercício da profissão – como alegam as pacientes –, o ginecologista poderá ter o registro cassado.
O Ministério Público pediu à Justiça que fossem determinadas algumas medidas cautelares. As solicitações foram atendidas e, por isso, o ginecologista teve que se afastar do hospital e deve ter a atividade médica suspensa durante o processo. Na semana passada, GZH ouviu duas mulheres que contam terem sido abusadas. Elas relatam sofrerem com traumas até os dias atuais.
Também na semana passada, o MP ouviu duas mulheres que contam terem sido vítimas do ginecologista. Uma terceira agendou atendimento para esta segunda-feira. A promotora Luana Rocha Ribeiro destaca a importância de as pacientes buscarem os órgãos que estão apurando o caso, ainda que os fatos tenham acontecido há mais tempo. Mesmo que o crime já esteja prescrito (se o fato aconteceu há mais de 12 anos), é possível ser ouvida como testemunha.
— Agora, o momento é esse, de quanto mais mulheres trouxermos à luz, melhor — explica.
Como denunciar
O contato com a Polícia Civil de Canguçu sobre este caso deve ser feito pelo telefone fixo da delegacia (53 3252-7876) ou pelo celular funcional do delegado (53 98424-2253, inclusive por WhatsApp). Outros casos podem ser informados à Polícia Civil pela Delegacia Online ou na delegacia mais próxima.
O que diz a defesa
O advogado Gustavo Goularte, responsável pela defesa de Barbosa, afirma, em nota, que o cliente é inocente.
"As acusações são bem graves. Não existe prova da ocorrência. A defesa que foi apresentada nesta quarta-feira, no processo, já traz em caráter preliminar fortes elementos da inocência do nosso cliente. Os fatos são inexistentes. Uma das exigências do doutor Cairo é que o processo tramite o mais rápido possível para que a verdade se estabeleça."