A Polícia Federal desencadeou na manhã desta terça-feira (19) uma operação para prender envolvidos em diversos crimes registrados na maior reserva indígena do Rio Grande do Sul, a Guarita, situada próximo à fronteira com a Argentina. Os 200 policiais tentam cumprir 14 mandados de prisão e 38 de busca e apreensão na área indígena, que tem 23 mil hectares e 17 núcleos habitados. Mais de 7 mil caingangues e 800 guaranis vivem ali.
A reserva se espalha por três municípios: Tenente Portela, Miraguaí e Redentora. Só no último mês foram registrados oito incidentes graves na área indígena, incluindo tentativa de assassinato de um líder caingangue — em 19 de outubro — incêndio em duas residências, atentados a tiros e, por fim, disparos que resultaram na morte de um indígena e ferimentos em outros três no último dia 7.
A briga opõe dois grupos, um liderado pelo cacique Carlinhos Alfaiate e o outro pelo vice-cacique Vanderlei Ribeiro, o Vandinho, que conta com apoio de índios vindos de aldeias da Grande Porto Alegre.
A grande extensão da área (cerca de 800 vezes o tamanho do Parque da Redenção) torna muito difícil realizar alguma prisão e isso foi o motivo para que a PF levasse tempo para agir, mesmo ante a verdadeira guerra pelo poder que ocorre dentro da reserva caingangue.
— Foi necessário muito planejamento para evitar reações impensadas por parte dos alvos. São milhares de indígenas que vivem ali, ligados a facções diferentes. Existem muitos esconderijos, então foi necessário um levantamento demorado — pondera um policial que participa da ação.
A operação desta terça-feira conta com ajuda da Brigada Militar e mira apenas os autores de atentados e do homicídio. A PF, no entanto, investiga também arrendamento ilegal de terras e cobrança de propina por parte dos líderes indígenas. A disputa pela renda oriunda dessas práticas, aliás, é pano de fundo para o conflito, como mostrou reportagem de GaúchaZH em outubro.