Em seu dia de folga, o policial militar Emerson Daltri Tadielo, 41 anos, rumou de Porto Alegre em direção a Santiago. No município da Região Central pretendia encontrar a família. Ainda faltavam quase 400 quilômetros quando decidiu parar em uma tenda às margens da BR-386, em Triunfo, na Região Metropolitana. Queria levar vasos de plantas para enfeitar a moradia. Baleado no pescoço por assaltantes, o soldado morreu sem completar o trajeto de volta para casa.
Na tarde de quinta-feira (4), Tadielo estacionou sua caminhonete Ranger em frente à tenda e perguntou qual o valor dos vasos de cerâmica. O policial escolheu dois deles e saiu carregando um até o veículo. Dentro da tenda, a vendedora esperava que ele retornasse para buscar outro e acertar o valor da compra. Do lado de fora, Tadielo foi abordado por uma dupla armada. O soldado sacou a pistola e reagiu. A mulher escutou os estampidos do tiroteio e não entendeu do que se tratava.
— Ouvi os estouros e logo ele entrou. Achei que não tinha acontecido nada. Então ele pediu: "Chama o Samu. Estou ferido". Mas não deu tempo, infelizmente. Nem sabia que era um policial — recorda a comerciante.
O corpo do soldado completou na madrugada desta sexta-feira (5) o trajeto que ele pretendia fazer. Em Santiago, residem a esposa e a filha dele, fruto de relação anterior. O corpo do soldado foi velado até o fim da tarde no clube mantido por policiais militares aposentados do município. Depois disso, seguiu para o cemitério de Vila Branca, localidade na área rural, para ser sepultado.
— É muito traumático perder um colega assim. Mas a condição de policial nos impõe isso. Mesmo de folga, estamos 24 horas por dia a serviço da sociedade. Ele foi a vítima e se defendeu, assim como defenderia outra pessoa nessa situação. É nossa missão. Ele era aquele cara que abraça a profissão — afirma o comandante do 5º Regimento de Polícia Montada, major Noé Jesus Costa.
Tadielo completou 20 anos como policial militar em 14 de dezembro. Originalmente, era lotado em Jaguari, também na Região Central, mas há sete anos fazia parte da força-tarefa do Presídio Central, em Porto Alegre. Atuava no policiamento da maior casa prisional do Estado. Proativo, participava inclusive em seus horários de folga de projeto com crianças na busca do resgate do vínculo familiar dos detentos. Ajudou recentemente a arrecadar doações de tintas para as oficinas.
— Pensa em uma pessoa que faz muito mais do que deveria fazer. Alguém que está dentro de uma cadeia e não tem hora para sair. Termina o horário e se oferece para continuar. Porque sabe que precisam dele. Ele ajudava em tudo. Nunca pensou só em si. Pensava em todo mundo, inclusive nos presos. Não perdi um colega, perdi um amigo — lamentou o major André Ferreira, que acompanhou os atos fúnebres em Santiago.
Investigação
O delegado Lúcio de Melo, que investiga o caso, acredita que Tadielo foi vítima de um latrocínio (roubo com morte). Para o policial, os bandidos pretendiam roubar a caminhonete do soldado, mas acabaram trocando tiros com a vítima. O delegado suspeita que os criminosos não sabiam que o alvo era um policial militar.
Após alvejarem Tadielo, os bandidos escaparam sem levar nada. Eles teriam embarcado em outro veículo que estava nas proximidades. A Brigada Militar fez buscas na região, inclusive com uso de aeronave, mas os dois não foram encontrados. Até a tarde desta sexta-feira (5) ninguém havia sido preso. O comando da Brigada Militar emitiu uma nota na qual lamenta a morte do policial.