Uma corrida de poucos minutos se transformou em trauma para um taxista, de 46 anos, neste fim de semana em Porto Alegre. Na madrugada de sábado (19), ele transportava o funcionário de uma pizzaria de volta para casa até o bairro Serraria, na Zona Sul, quando teve o carro alvejado por mais de 20 tiros, por engano. O passageiro do Siena, ao lado dele, foi baleado cinco vezes, mas recebeu alta médica.
Por conta do horário, o funcionário da pizzaria costumava recorrer ao táxi para voltar para casa. Pouco depois da meia-noite, o taxista tinha acabado de jantar quando o rapaz pediu a corrida.
"Quer que eu leve?", questionou um colega do taxista.
"Não, já terminei", respondeu.
Taxista e passageiro estavam lado a lado, quando começaram os disparos na direção do automóvel. O motorista tentou engatar a ré, mas o veículo apagou. Os dois escaparam correndo em direção aos matagais. O jovem, que acabou baleado em uma das pernas, em um braço e nas costas, recebeu alta horas depois.
Segundo a Polícia Civil, o grupo tinha como objetivo executar um integrante de facção criminosa rival e, mesmo sabendo que não se tratava do alvo procurado, atirou no passageiro que estava chegando em casa após o trabalho. Três homens e um adolescente, todos armados, foram capturados após o crime. Os autores dos disparos são de uma facção com base no bairro Santa Tereza e teriam errado o caminho, já que pretendiam executar um rival na Vila dos Sargentos.
Ainda em casa, o taxista, que tem duas décadas de experiência atendendo corridas na Capital, contou a GaúchaZH na tarde deste domingo (20) que nunca tinha passado por algo parecido. Confira a entrevista:
Como o senhor conseguiu escapar sem ferimentos?
Tenho certeza que foi Deus. Saí ileso, sem nenhum arranhão. Me joguei do carro, saí correndo e rolando. Caí duas vezes, até chegar no mato. Ele (passageiro) saiu pela mesma porta que eu. Acho que levou dois tiros ainda dentro do carro, do meu lado.
O senhor logo percebeu que eram tiros?
Sim. Quando estou chegando no colégio, vieram os disparos. Deu aquele baita tiro. Virei para trás e tentei dar ré. Engatei a marcha e o carro apagou. O passageiro se grudou em mim, apavorado, começou aquela gritaria e aquele monte de tiro. Saí correndo, em desespero total.
O senhor conseguiu ver de onde vinham os tiros?
Saí correndo e não olhei mais para trás. Comecei a correr. Estava tão desesperado, nunca tinha passado por essa experiência. Sempre trabalhei à noite, mas nunca tinha passado por uma situação dessas. Estou apavorado.
Já havia levado o mesmo passageiro ali?
Sim, ele sempre pega táxi, por conta do horário. Levei ele há um mês ou dois. Mas sempre só até o quartel. Dessa vez, um colega disse que podia ir mais adiante, até a escola, que estava tranquilo. Ele mora lá para dentro, mais para cima. A gente larga ali e ele vai a pé.
O que passa pela cabeça numa hora dessas?
É um desespero. Tenho mulher e um filho, de 11 anos. Saber que a vida da gente vai ser interrompida assim, de graça. É triste entrar numa situação inocente, sem nem saber porque estavam atirando em mim.
Por que acha que atiraram em vocês?
Dizem que tinha acontecido um tiroteio pouco tempo antes. Então acho que entrei no meio do tiroteio. De repente pensaram que estava levando alguém lá para dentro. Não sei o que se passou na cabeça dessas pessoas.
O senhor está preparado para voltar a trabalhar?
Não tenho escolha, tenho de voltar, mas com muito medo. A gente acha que nunca vai acontecer.