As 20 delegacias de Porto Alegre somente conseguiram esclarecer um a cada 15 crimes registrados pelos cidadãos em 2018. O levantamento, que envolve oito tipos de delitos, foi obtido pelo RBS Notícias com base na Lei de Acesso à Informação. Os dados divulgados pelo governo relacionam oito tipos de crimes por delegacia.
No ano passado, foram 53.647 registros de homicídios, latrocínios, roubos, estelionatos, furtos, furtos qualificados, furto de veículo e roubo de veículos. No entanto, apenas 3.555 inquéritos foram remetidos à justiça com autoria apontada pelos investigadores — 6,62% dos crimes.
— A não autoria, sobretudo nos crimes que atingem o patrimônio, gera uma sensação concreta, e não imaginária, de impunidade. E produz, infelizmente, uma espécie de “autorização” velada aos que buscam burlar a lei — avalia o professor de direito penal Marcelo Bertoluci.
Os crimes contra a vida foram os mais solucionados. A Polícia Civil identificou autoria em 484 dos 991 inquéritos abertos por homicídios e tentativas de homicídios, o equivalente a 48,83% dos crimes. Dos 14 latrocínios registrados na capital, apenas um não foi resolvido.
No entanto, crimes que aconteceram com frequência muito maior ainda estão impunes. Dos 4.841 estelionatos registrados, apenas 376 resultaram em inquéritos com indiciamento, equivalente a 7,76% dos crimes.
Só um em cada 25 furtos e roubos de veículos foi esclarecido. No ano passado, houve 9.762 registros, mas apenas 402 inquéritos foram concluídos e remetidos à justiça com indiciamento, o equivalente a 4,11% dos crimes solucionados.
Entre as vítimas, está um comerciante da zona norte de Porto Alegre. Sob a ameaça de armas, ele entregou o carro aos bandidos.
— É traumatizante, a gente fica sempre apreensivo. E nos assusta, porque a gente tem filho pequeno, cada vez que a gente vai sair (de carro) é um pavor, ele desabafa.
Pelo levantamento, o delito mais comum registrado na capital é o roubo. Foram 19.841 assaltos com 1.267 inquéritos remetidos à justiça com autoria apontada pelos investigadores, o equivalente a 6,3%. Entre os alvos, está uma rede de lojas que amargou R$ 11 milhões em prejuízos, após onze ataques ocorridos somente no segundo semestre de 2018.
— Hoje eles (os bandidos) perderam a vergonha e o respeito a polícia. E tu ser assaltado dentro de um grande shopping, com toda segurança, toda estrutura que tem, é porque eles não tem mais medo — desabafa o gerente da rede.
A chefe da Polícia Civil Nadine Anflor reconhece o problema. Ela diz que, neste ano, será adotada uma postura diferente no combate ao crime. A ideia é atacar a ação dos bandidos nos bairros, e tentar melhorar os índices de solução dos inquéritos nas delegacias.
— O que nós queremos é dar um olhar para o bairro, um olhar para esses crimes ordinários, que são os que incomodam a população. Temos que racionalizar os plantões das delegacias, buscar dentro dessas 20 delegacias de Porto Alegre um atendimento mais qualificado e uma investigação com maior efetividade — afirma a delegada.