Diante dos altos índices de criminalidade e do sentimento de insegurança que assolam a população, é natural que sejam cobradas ações dos órgãos da segurança pública, incluindo respostas rápidas em casos de crimes graves, como o latrocínio.
Ainda que não repare o dano, principalmente quando se trata da perda de uma vida, a prisão do criminoso serve ao menos de alento, reduzindo a sensação de impunidade e aumentando a crença no sistema jurídico penal.
Porém, o medo, a ansiedade e a insegurança geral não podem provocar o risco de que, diante de um crime, uma grande injustiça seja cometida.
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E, na minha opinião, foi exatamente isso que aconteceu no caso do jovem preso por engano, como se fosse o autor do assassinato do estudante de Marketing Gabryel Machado Delgado, 20 anos, durante um assalto.
Dentro das condições atuais, com falta de efetivo e de equipamentos necessários à investigação, é inegável que a Polícia Civil realiza um bom trabalho.
Porém, acredito que a pressa em solucionar o crime e, desta forma, dar uma resposta rápida à população, provocou um grave erro, avalizado pelo Judiciário.
A prisão de alguém com base apenas em semelhanças a um retrato falado e em um reconhecimento feito por testemunha através de uma fotografia parece-me um retorno aos tempos difíceis, de estado de exceção, quando às polícias era permitido até "prender para averiguação".
Eu mesmo testemunhei e noticiei um caso em que, antes da entrada em vigor da Constituição de 1988, e ainda como reflexo dos tempos de ditadura militar, três testemunhas foram presas e acorrentadas em uma delegacia, para que não se negassem a depor.
Mas, voltando ao caso Gabryel, um jovem universitário, por ironia ex-colega de Exército da vítima de latrocínio, passou 32 horas na carceragem da Polícia Civil, sem que tivesse cometido qualquer crime.
Foi um fato grave que requer cobranças, até para que não se repita com outras pessoas. Prisões de inocentes, ainda mais com a pecha de ser autor de um crime hediondo, pode causar danos irreparáveis em quem passa por essa situação. Sem contar os riscos de passar uma noite em uma cela com verdadeiros criminosos.
Se você acha que estou exagerando, experimente pernoitar em uma carceragem de DP ou no setor de triagem do Presídio Central. Nunca passei por essa experiência, mas já ouvi muitos relatos de quem garante que é traumatizante e revoltante.