A inclusão de Porto Alegre no projeto-piloto de apoio da Força Nacional de Segurança (FNS) na investigação de homicídios é reflexo da preocupação da Secretaria da Segurança Pública (SSP) com os crescentes índices de homicídios.
A notícia da chegada do novo efetivo, de policiais e de peritos, prevista para dezembro, já é comemorada entre especialistas e policiais. Para o secretário da segurança pública, Cezar Schirmer, o momento é de somar esforços.
– Estamos em uma guerra. Não dá para achar que vamos resolver sozinhos. Essa ação mostra que o governo está trabalhando, enfrentando. Vamos ter criatividade e somar todos os esforços sem disputa de beleza. É uma guerra que tem de ser combatida no longo, no médio, no curto prazo e, aqui no Rio Grande Sul, no ontem. É o que estamos fazendo – disse Schirmer nesta segunda-feira.
A ideia é agregar policiais experientes ao efetivo das Delegacias de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP). Pelo menos quatro das seis DHPPs devem ter o reforço. O novo efetivo deve chegar ao Estado a partir de 1º de dezembro, segundo o secretário.
Na sexta-feira, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, anunciou o reforço, que deve ser estendido para todas as capitais até março de 2017 dentro do Plano Nacional de Segurança, que está sendo finalizado.
Os números da violência justificam a prioridade. Conforme o levantamento do Diário Gaúcho, pelo menos 640 pessoas já foram assassinadas na Capital desde o começo do ano. Um número 19,4% superior aos 536 até esta altura do ano passado. O volume, na verdade, já é 5% superior a todos os assassinatos em Porto Alegre durante o ano passado inteiro, quando pelo menos 609 pessoas foram mortas. O número inclui os latrocínios (roubos com morte), que registraram a maior alta. Já foram 30 vítimas em 2016, 76% a mais do que no mesmo período do ano passado.
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Schirmer explicou que os detalhes do reforço – como quantas pessoas serão enviadas ao Estado e como funcionará o trabalho – ainda estão sendo construídos com o Ministério da Justiça. Disse também que valores a serem destinados ao Rio Grande do sul devem contemplar, inicialmente, melhorias no sistema prisional, em equipamentos, armamento e viaturas.
– O foco nos homicídios demonstra que há uma prioridade, que é a vida humana. A Secretaria de Segurança Pública tem que focar nisso. Qualquer contribuição que venha a ser dada para este objetivo, de redução dos homicídios, que se pode obter por meio do esclarecimento de casos, é útil. Isso demonstra que a secretaria vai assumindo esse foco diante do descalabro do aumento dos casos de homicídios em Porto Alegre – avalia Rodrigo de Azevedo, pesquisador e professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais da PUCRS.
Promotora da 1ª Vara do Júri de Porto Alegre, Lúcia Helena Callegari vê com entusiasmo o reforço para solucionar casos de assassinatos:
– Investimento em investigação é essencial. Vejo com muito entusiasmo. Isso ajuda para cumprir mandados de busca, identificar locais e no sentido de ouvir mais pessoas. Tudo isso contribui. Temos tido aumento significativo de homicídios e tudo que conseguir agregar de solução é uma resposta para a sociedade, que pode ter resultado positivo no sentido de tirar pessoas de circulação.
O chefe da Polícia Civil, delegado Emerson Wendt, entende que o fato de os policiais não conhecerem a cidade não será obstáculo para o trabalho:
– Eles vão se somar a equipes já existentes. Vão atuar em investigações, em atividades de cartório, diligências de rua e podem agregar técnicas de investigação, contribuir.
Wendt destacou que um trabalho integrado entre Polícia Civil e Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), que teve início em agosto, está mapeando e analisando, dentro e fora do sistema prisional, grupos rivais que disputam espaços na cidade.
Para o diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, delegado Paulo Rogério Grillo, o reforço de policiais da Força Nacional para atuar em investigações é válido.
– São policiais experiente e treinados, que, certamente, poderão contribuir para esse trabalho – diz Grillo.
Schirmer disse que gosta de trabalhar com metas, mas que ainda não as tem para o trabalho que vai começar em dezembro:
– Quero a redução (dos homicídios). O homicídio tem grande repercussão pública, é o maior indicador de sensação de insegurança e com reflexo em outros crimes. É a ponta de um iceberg, é a parte mais visível de um problema. Conversei com o ministro (da Justiça e Cidadania, durante encontro de secretário de segurança pública, em Gramado) quando ele esteve aqui, o governador também esteve em Brasília. O governo está agindo.