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O acréscimo de um medicamento à quimioterapia hoje oferecia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) poderia aumentar em dois anos a sobrevida de pacientes com câncer de mama metastático HER2 Positivo, um tipo comum que atinge 20% das mulheres com a doença. A revelação é parte de um estudo realizado por médicos brasileiros e divulgado neste mês no Journal of Global Oncology, da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO).
O levantamento sugere que o Trastuzumabe, um medicamento considerado essencial pela Organização Mundial da Saúde (OMS), seja oferecido para quem tem a doença em estágio avançado. Desde 2013, essa droga é utilizada no SUS somente em casos câncer de mama inicial e localmente avançado. A terapia foi disponibilizada em 1999 na rede privada.
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– Pelo SUS, as mulheres com câncer só têm acesso à quimioterapia geral. O Ministério da Saúde diz que não há custo-benefício no tratamento. Todos os estudos internacionais mostram que é possível alcançar uma sobrevida de dois anos com esse medicamento, em comparação a quem tem a mesma categoria de doença e não usa esse tratamento. Estamos questionando: o custo da vida de uma pessoa é que está sendo levado em conta? – pergunta a chefe do Serviço Médico de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento Maira Caleffi, uma das autoras do estudo.
Para embasar o relatório, o grupo de especialistas utilizou estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) que apontam que, só neste ano, 57,9 mil novos casos de câncer de mama devem ser registrados no Brasil, dos quais mais de 73% serão tratados no SUS. Com base nesses dados, os autores calculam que, das 2.008 mulheres diagnosticadas com doenças metastáticas HER2 Positivo neste ano, 808 poderiam ter dois anos a mais de vida se submetidas ao tratamento convencional oferecido atualmente pelo SUS. Com a presença do Trastuzumabe, o número de pacientes com chances alcançar dois anos de sobrevida pularia para 1.408. Já com a combinação da quimioterapia, Trastuzumabe e Pertuzumabe, outro medicamento que não oferecido pela rede pública e considerado o "padrão ouro" de tratamento, 1.576 mulheres poderiam viver dois anos mais.
– Estamos ficando muito defasados entre quem tem acesso a convênio e quem não tem. É comum a pessoa já chegar ao médico em estágio avançado em função da falta de acesso a exames e especialistas. Essas pacientes serão submetidas a uma quimioterapia menos focada – avalia Maira.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde, por meio de nota, informou que "o benefício adicional de incluir o trastuzumabe ao tratamento convencional é pequeno e o custo do tratamento é alto, o que resulta em razão de custo efetividade entre media e baixa". Ainda segundo a pasta, o medicamento traz mais benefícios do que riscos quando prescrito para casos iniciais da doença, como é feito atualmente.
Leia a íntegra da nota enviada pelo Ministério da Saúde:
"O Ministério da Saúde esclarece que o medicamento Trastuzumabe é /aprovado em bula, como quimioterapia adjuvante do Câncer de Mama HER2 positivo, usado após o tratamento convencional (cirurgia + radioterapia + quimioterapia). O tempo de manutenção do uso nesse caso é de um ano e há evidências que esse tratamento adjuvante traga benefício adicional, pois aumenta o tempo médio em que uma doente fica livre de uma recaída. O medicamento também traz eventos adversos, mas, com o tempo limitado de uso a, no máximo, um ano, minimiza esses prejuízos.
É importante destacar que o trastuzumabe, para essa indicação, tem maior probabilidade de trazer mais benefícios que riscos a essas mulheres. No entanto, o benefício adicional de incluir o trastuzumabe ao tratamento convencional é pequeno e o custo do tratamento é alto, o que resulta em razão de custo efetividade entre media e baixa. Mesmo assim, a Comissão Nacional de Incorporação de Novas Tecnologias ao SUS (Conitec) recomendou a incorporação, e o SUS incorporou o tratamento adjuvante.
O Ministério da Saúde tem atuado no sentido de fortalecer os serviços e as ações que visam qualificar a atenção à saúde das pessoas com câncer. Além do esforço para organização dos serviços assistenciais, a pasta tem apoiado os estados e o Distrito Federal na ampliação do número de hospitais capacitados para tratamento do câncer. Nos últimos 5 anos, na assistência oncológica cresceu quase 63%, passando de R$ 2,1 bilhões em 2010 para R$ 3,5 bilhões em 2015. No período, houve aumento de 34% no número de pessoas com câncer atendidas no SUS, ampliando de 292,9 mil para 393 mil. Nesse mesmo período, o número de procedimentos de tratamento (radioterapia, quimioterapia e cirurgia oncológica) e de prevenção (mamografia e papanicolau) saiu de 21 milhões para 22,9 milhões".