Atrasos recorrentes no pagamento de salários e falta de insumos estão prejudicando os atendimentos do Samu em Canoas, na Região Metropolitana. Segundo relato dos profissionais do serviço de emergência, há casos de médicos e enfermeiros que ainda recebem os vencimentos desde dezembro.
Os problemas atingem também a estrutura de trabalho. Há falta de insumos, como equipamentos para medição de glicose, e até mesmo de combustível para as ambulâncias.
— No meu último plantão, terça-feira (4), era para ter seis ambulâncias disponíveis, quatro básicas e duas avançadas. Mas só tinha uma avançada, pois não tinha médico para a outra, e duas básicas, já as outras duas estão retidas na oficina por falta de pagamento pelo conserto — afirma o médico Paulo Tigre.
Desde 2015 atuando no Samu de Canoas, Tigre diz que nunca havia passado por situação semelhante. Ele conta que as irregularidades são generalizadas, porém não atingem todos os profissionais. Médicos com mais tempo de serviço, por exemplo, sofrem atrasos menores. Já os recém-contratados ou que cobrem férias ou plantões de final de semana não são pagos com a devida frequência.
— Acontece de tudo. Teve um colega que tirou férias em dezembro e até agora não recebeu o adicional, outro que recebeu R$ 1,74 de vale-alimentação no mês, outros que não receberam os salários de dezembro, janeiro e fevereiro. Já teve ambulância que parou na rua por falta de gasolina e ao menos dois postos não abastecem porque dizem que não recebem — afirma Tigre.
Há relatos ainda de falta de ar-condicionado nas ambulâncias, com os técnicos de enfermagem precisando abanar pacientes com pedaços de papelão, e más condições de trabalho na sede do Samu, com proliferação de ratos no prédio.
Em Canoas, o Samu é gerenciado por uma empresa privada, contratada pela prefeitura. A empresa é encarregada de fornecer mão de obra, insumos e fazer a manutenção das viaturas e equipamentos. A prefeitura da cidade emitiu uma nota afirmando que está revisando todos os contratos junto à saúde (leia na íntegra abaixo).
Nota da prefeitura de Canoas
"A Prefeitura de Canoas, ao tomar conhecimento das reclamações dos funcionários do SAMU na cidade e diante da prestação de contas de dezembro 2024 e janeiro de 2025 por meio da secretaria da Saúde e a Procuradoria-Geral do Município (PGM) identificou irregularidades por parte da empresa responsável pela gestão e operacionalização do serviço em Canoas, a CAP Emergências Médicas. A empresa com sede em São Paulo, que possui contrato em vigor, vinha recebendo apontamentos desde a metade do ano passado.
O Município cumpriu o pagamento da competência de dezembro e janeiro para a CAP e, a partir da análise da prestação de contas de fevereiro 2025 está solicitando o envio de documentos faltantes. Estão sendo apuradas questões trabalhistas não cumpridas, denúncias de falta de repasses de vale alimentação e ausência de pagamentos junto a fornecedores. Além disso, a Prefeitura realizou, recentemente, o repasse do reajuste contratual previsto conforme o IPCA para a empresa operadora que está recebendo em dia. A Secretaria Municipal da Saúde recebeu com surpresa, cobranças de prestadores de serviços, como mecânicas e abastecedoras de combustíveis, reivindicando a falta de pagamentos por parte da empresa paulista. A gestão está revisando atualmente todos os contratos junto à saúde para que sejam cumpridos conforme previsto."