O monitoramento da presença do coronavírus na rede de esgoto de Porto Alegre ganhou maior visibilidade na internet. O trabalho realizado pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde agora é divulgado em um painel online, que pode ser acessado por qualquer pessoa.
No site, é possível acessar informações coletadas junto à estação de tratamento localizada na Serraria, zona sul da Capital. O método adotado permite identificar a carga viral através das fezes e urina de pessoas infectadas que vão parar no esgoto.
— A gente não utiliza esse dado para dizer quantos estão contaminados pelo SARS-CoV-2. Presumimos que, quanto maior a carga viral, maior é o número de pessoas infectadas. Mas é um pouco arriscado fazer esse tipo de afirmação porque algumas variantes podem causar menor ou maior excreção do vírus. Por isso, usamos esse dado de carga viral para saber mais se está havendo tendência de aumento ou de queda de casos — explica Aline Campos, chefe da Divisão de Vigilância Ambiental em Saúde.
Semanalmente, são realizadas duas coletas de amostras do esgoto bruto junto à estação. Elas são enviadas ao laboratório do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e os resultados saem a cada 15 dias, migrando automaticamente para o painel.
Um dos objetivos do trabalho é auxiliar a tomada de decisões para prevenção e enfrentamento da doença. Através dos dados publicados no site podem ser identificadas tendências que, muitas vezes, os registros oficiais não deixam tão evidentes.
Um exemplo disso pode ser percebido nos números de casos confirmados de coronavírus. Se apenas os números oficiais dos últimos meses fossem levados em consideração, a constatação mais razoável seria de que Porto Alegre não tem registrado um aumento expressivo de contaminações.
Com o painel destacando a elevação significativa da carga viral, a leitura muda.
— A princípio, a impressão que nós temos é que tem menos gente procurando os testes para covid. Por outro lado, também vimos o aumento da carga viral no esgoto e das internações de casos graves. A soma dessas duas informações permite inferir que, realmente, houve um aumento de casos — observa a especialista em saúde, Aline Campos.
As coletas são realizadas desde 2020, quando os primeiros casos de coronavírus foram detectados no Rio Grande do Sul.
Hoje, o painel concentra apenas dados de Porto Alegre, mas o trabalho de coleta de amostras é realizado também em Santa Rosa, Caxias do Sul, Passo Fundo, Santa Maria, Torres, Capão da Canoa e São Leopoldo. Segundo o Centro Estadual de Vigilância em Saúde, as informações desses sete municípios também passarão, em breve, a constar no site.