Por serem capazes de bloquear pelo menos 94% das partículas e se adaptar melhor ao rosto, evitando que o ar entre ou saia sem ser filtrado, as máscaras PFF2, também chamadas de N95, passaram a ser indicadas como a melhor opção para a proteção contra o coronavírus pelo Comitê Científico de Apoio ao Enfrentamento da Pandemia de Covid-19 do governo do RS. Com a retomada gradual das aulas presenciais e o aumento da possibilidade de exposição das crianças ao vírus, GZH consultou especialistas para investigar se esse equipamento de proteção também pode ser um aliado na proteção dos pequenos.
— A PFF2/ N95 é uma máscara que protege muito bem, é mais eficiente que as demais, só que é um pouco mais desconfortável pois fecha um pouco mais. Por isso, a pessoa que usa tem que ter uma consciência de respiração bem desenvolvida — afirma o pediatra José Paulo Ferreira, da Sociedade de Pediatria do RS.
As orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria são de que crianças de zero a dois anos não usem máscaras, de qualquer tipo, já que a salivação intensa, as vias aéreas pequenas e a imaturidade motora elevam o risco de sufocação. O uso por indivíduos entre dois e cinco anos deve ser supervisionado por adultos, já que devem utilizar somente se conseguirem se adaptar, evitando mexer na máscara. Para crianças entre cinco e 10 anos e para os adolescentes, o uso é recomendado e indispensável em atividades escolares.
No Rio de Janeiro, o projeto Qual Máscara?, criado por Beatriz Klimeck, antropóloga e doutoranda em Saúde Coletiva na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), se propõe a analisar e fornecer informações científicas sobre os modelos de máscara que deveriam ser procurados ou evitadas, no contexto da pandemia. A ação defende a oferta da PFF2/N95 ao público amplo, e sua página no Instagram é acompanhada por 206 mil pessoas. Boa parte dos seguidores são pais que compartilham relatos de como seus filhos estão se adaptando a essa proteção.
— A partir dos seis anos de idade até a adolescência, temos registrado uma experiência muito positiva de uso de PFF2/N95 para esse público. No Brasil, não temos histórico desse uso, mas, em países asiáticos, máscaras equivalentes a essa já são utilizadas por crianças, em modelo infantil, há muito tempo. Não existe nada na PFF2/N95 que diminua capacidade respiratória ou possa ocasionar problemas de saúde — afirma Beatriz.
De acordo com a pesquisadora, o uso da PFF2/N95 é recomendado para crianças a partir dos cinco ou seis anos de idade, que já têm um rosto de tamanho suficiente para comportar o modelo adulto da máscara, já que a produção em tamanho infantil ainda é limitada no Brasil. Para que a máscara proteja o indivíduo, ela deve estar bem ajustada ao rosto, não pode ficar folgada.
— Hoje temos registro de uma única empresa que produz PFF2/N95 infantil no Brasil, no mesmo padrão da máscara em tamanho adulto. Mas temos contato com marcas que estão em processo de criação desses equipamentos para crianças, pois a demanda é muito grande. Sabemos, pela experiência de quem acompanha o projeto, que as crianças têm se dado muito bem com as PFF2/N95, já que, se bem ajustadas com elásticos atrás da cabeça, dão mais liberdade para a criança correr, brincar e pular. Essa máscara não cola na boca, não desce, e a criança não coloca tanto a mão nela, puxando-a de trás da orelha — afirma a pesquisadora.
Reserva aos profissionais de saúde
A recomendação atual da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quanto ao uso desse equipamento de proteção individual (EPI) é de que seja reservado aos profissionais da saúde, por risco de desabastecimento do produto no mercado brasileiro. Beatriz, contudo, se opõe a essa hipótese, com base em dados da Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho (Animaseg), que apontam que o fornecimento da PFF2/N95 no Brasil ultrapassa 45 milhões de unidades mensais.
— No início da pandemia, entendíamos que elas deveriam ser deixadas apenas para os profissionais da saúde, mas hoje o cenário mudou. Há alto índice de contaminação, variantes mais contagiosas, e temos a indústria brasileira de EPIs dizendo que é capaz de atender ao aumento dessa demanda. Considerando que não estamos vivendo o maio de 2021 que gostaríamos, aquele que teria redução de casos e maioria da população brasileira vacinada, a gente recomenda a adoção do uso diário da PFF2/N95.
De acordo com o pediatra José Paulo Ferreira, o uso da máscara pelas crianças depende muito do exemplo dos pais e das conversas sobre uso adequado. Ele reforça, ainda, sobre o risco de que as máscaras PFF2/N95 adultas fiquem grandes demais para os pequenos e falhem em protegê-los. Máscaras de pano com pelo menos duas camadas de tecido e com substituição quando ficam úmidas também são recomendadas aos pequenos.
— Não há nenhum trabalho científico que mostre com que idade uma criança pode usar a PFF2/N95, afinal, ela foi feita originalmente para profissionais da saúde. No meu entendimento, se a pessoa se sente confortável usando a PFF2/N95, não há problema nenhum em usar, não há contraindicação. Para crianças com mais de cinco anos e adolescentes, o mais importante é supervisão e diálogo para fazer com que eles usem máscara — defende.
Questionado pela reportagem de GZH sobre o tema, o Ministério da Saúde informou que ainda não tem recomendações quanto ao uso de PFF2/N95 por crianças, mas disse estar preparando um manual abrangente, com recomendações sobre a utilização de máscaras inclusive pelo público infantil.