Menos de 300 metros ao norte do Parcão, os equipamentos de musculação, pistas de caminhada, brinquedos infantis, lago e bancos, a praça Doutor Maurício Cardoso surge como alternativa menos movimentada de espaço verde para as famílias que vivem no Moinhos de Vento e arredores. De acordo com vizinhos do espaço e representantes da Associação da Praça Maurício Cardoso (APMC), os últimos anos foram de qualificação significativa do espaço graças à união entre comunidade e empresários locais. A preocupação ambiental fez com que o espaço fosse considerado a primeira praça sustentável de Porto Alegre, segundo a prefeitura.
A praça foi construída em 1878. Nos primeiros anos do século 21, porém, passou por momentos de aglomeração de pessoas em situação de rua, furtos de equipamentos e vandalismo, como outras áreas de lazer de Porto Alegre. Quando representantes comunitários adotaram oficialmente a quadra em nome da APMC, uma primeira leva de contribuições financeiras e uma rede de comunicações entre vizinhos e autoridades surtiu efeito, a partir de 2010, de acordo com Maria Celina Amodeo, 77 anos, moradora de um prédio ao lado da praça desde 2006.
— Meu falecido esposo frequentava a praça na infância, 80 anos atrás. Quando nos mudamos para cá era um ambiente menos seguro, com moradores de rua, pontos de prostituição e outros problemas para os vizinhos. A primeira medida nossa foi pedir nova iluminação com a prefeitura e acionar a Brigada Militar com frequência — conta Maria.
Nos últimos quatro anos, cinco mulheres voluntárias com diferentes níveis de proximidade da praça formaram um novo grupo de trabalho dentro da APMC com a missão de promover três fatores da vida comunitária na praça: cultura, infância ao ar livre e fomento ao comércio local. Além da prefeita da praça Maria do Carmo Soccol, Regina Schuch, Julia Presotto e Alua Kopstein dividem com Roberta Pretto a gestão semi-profissional (que fazem de maneira voluntária). Na visão delas, estes eixos foram imprescindíveis para que os vizinhos voltassem a frequentar de maneira saudável e segura a área verde.
Desde 2021, em resposta a uma momentânea falta de investimento na praça decorrente do isolamento social pandêmico, Roberta Pretto criou um plano de comunicação e identidade visual para mostrar aos empresários da região que a praça poderia ser o espaço verde comum para os vários condomínios verticais que a circundam.
— A própria comunidade é quem adota e cuida da praça através da associação. Todos têm o real interesse na manutenção do bom estado da praça. Os moradores da região fazem mais do que as empresas maiores adotantes fariam. São as empresas vizinhas que trazem o dinheiro maior, mas são as pessoas que frequentam a praça que mantêm ela viva e como queremos para benefício também dos empresários da região — Roberta.
Ao longo dos anos, contribuições financeiras particulares ajudaram a manter os jardins limpos e os brinquedos em condição de uso. Segundo números atualizados da APMC, são mais de 40 amigos da praça, considerando pessoas físicas e jurídicas que fazem aportes monetários regularmente. Mais do que o investimento financeiro, parcerias com institutos culturais trazem eventos como o cinema na praça, as sessões de lançamento de livro, encontros para leitura e contação de histórias e apresentações musicais. As programações são comunicadas pelo perfil da praça no Instagram, canal que amplia o alcance das ações.
Feriado na praça
Maria Celina, matriarca da família Amodeo, observava, sentada ao lado do cachorro de um dos netos em um banco da praça, seus descendentes aproveitando o espaço do parquinho infantil. Rafael, cinco anos, e Pedro, um e meio, se alternavam entre a caixa de areia e a coleta de folhas e sementes secas em um potinho, ambas atividades acompanhadas por um adulto. No total, eram sete crianças brincando no espaço monitoradas por 11 adultos entre 10h30min e 11h20min desta quarta-feira (15), feriado da Proclamação da República.
— É um bom espaço para cansar os pequenos antes da chuva chegar — brinca Guilherme Hildebrand, 44, sobrinho-neto de Maria Celina, atento à previsão do tempo para a tarde.
Outra família deixava o espaço com o filho no colo depois de uma hora brincando. Carlos Papaléo, 53, pai do Eduardo, de um e meio, diz que era trazido naquela mesma praça pelos seus pais. Atualmente a escolha é feita levando-se em conta o movimento menor do que no Parcão, além da proximidade de restaurantes e cafés para fazer refeições ao lado da praça.
— No meu tempo ela era igual ao que vemos agora, mas tinha tartarugas no laguinho. Por conta do pequeno, circulamos em algumas praças da cidade. Essa arborização que temos aqui (praça Maurício Cardoso) é única. São árvores antigas, diversas e bem mantidas — elogia, referindo-se às fontes de água cercadas por pedras na parte mais alta da praça.
Prefeitura reconheceu investimentos
Em 21 de agosto a prefeitura celebrou o bom trabalho da associação na revitalização do espaço, concedendo o selo de “praça sustentável” ao local. O reconhecimento veio depois que o Instituto Unimed instalou tecnologia e estrutura de serviço da empresa Trashin, que atua na gestão de resíduos.
Foi instalado um container de 1 mil litros para a coleta de resíduos, o que permite o armazenamento correto antes de serem destinados adequadamente, além de duas bituqueiras para descarte de cigarros que serão reciclados. De acordo com o monitoramento atualizado da plataforma Trashin, o trabalho de separação de resíduos recicláveis na Praça Maurício Cardoso rendeu R$ 86,27 para as famílias de recicladores atendidos pela empresa.