O tradicional Brique da Redenção, coração de Porto Alegre aos domingos, não pulsou como de costume no primeiro fim de semana de 2022. A Rua José Bonifácio, onde a feira dominical costuma ser instalada, estava semideserta neste domingo (2). E o seu ponto de referência, o Parque da Redenção, mais ainda. Entre o Monumento ao Expedicionário e o chafariz, quase ninguém. Um cenário impensável para quem está acostumado a ver esse espaço entre as árvores fervilhando de gente. Parte da explicação pode estar no calor de 36ºC que atingiu a Capital, parte na tradicional debandada para o Litoral.
- A maioria dos artesãos e expositores não veio, esse é o fato. Não compensa, porque os clientes costumam migrar para a praia na época de Natal, no fim de ano e no Carnaval - comenta a artesã Paolo Palopolo, uma argentina radicada há 20 anos no Rio Grande do Sul, que vende bolsas e outros artigos de couro numa barraca em frente à Igreja Santa Teresinha.
Outro que estava cabisbaixo por ali, também artesão, era o índio caingangue Luís Salvador. Morador do Morro do Osso, ele costuma ir à Redenção todo domingo, para vender cestos de vime, brinquedos esculpidos em madeira e algumas roupas. Comercializou quase nada no brique, desta vez.
- O pessoal tá na praia, né... Alguns da nossa aldeia também vão para lá, procurar a freguesia, que tá maior do que em Porto Alegre - descreve Salvador.
Próximo ao cachorródromo da Redenção, alguns frequentadores vieram "bater o ponto" no passeio dominical. Gente como a jornalista Lisemara Prates, que passeava de bike e resolveu dar uma parada para contemplar as árvores e tomar um pouco de sol.
- A gente ia pegar um clube, mas decidimos pedalar e fazer o ritual de visita à Redenção e tomar mate - justificou ela, que estranhou um pouco o cenário vazio do parque.
A orla do Guaíba, que costuma se parecer a um formigueiro humano nos finais de semana, estava semivazia. Mesmo as canchas de esportes, o novo point próximo à Avenida Ipiranga, não tinham frequentadores. Os bares, com algum movimento, até surpreendente para uma manhã de sol a pino e calor senegalesco.
Fugindo à quentura, integrantes da família Formoso da Costa decidiram fazer reunião dos parentes no Parque Marinha do Brasil, em frente ao Guaíba. Procuraram a sombra de árvores e armaram ali uma churrasqueira de latão. Mais de 20 familiares, vindos da Capital e Região Metropolitana - sobretudo Viamão e Lomba do Pinheiro - degustaram quilos e mais quilos de costela, salsichão e coraçãozinho de galinha no espeto.
- A gente começou com um futebol por volta das 10h, vamos para a carne agora e, depois, sestear sob a copa do arvoredo. Eita programa bom - comemorava Jonatan Vieira, o assador.
Prova de que nem só de Litoral se faz um veraneio.