O sistema de registro de visitantes da Câmara de Vereadores de Porto Alegre anotou que um dos manifestantes envolvidos em pancadaria com parlamentares de oposição na sessão de quarta-feira (20), Márcio Gonçalves Strzalkowski, ingressou no Legislativo informando que iria até o gabinete da vereadora Nádia Gerhard (DEM).
Segundo os registros, ele entrou na Câmara às 13h56min, usando a recepção do térreo ala norte. Apenas o primeiro nome está registrado na planilha, “Márcio”, mas o número do RG confirma que trata-se de um dos manifestantes que trocou empurrões e safanões com os vereadores Claudio Janta (SD), Leonel Radde (PT) e Roberto Robaina (PSOL).
Na sessão, ocupando as galerias, Strzalkowski e outros militantes vinculados ao Movimento Cristão Conservador do PTB protestavam contra a adoção do passaporte vacinal em Porto Alegre, que estava em pauta naquela tarde. Assim como os manifestantes, Nádia é contra a exigência do comprovante de imunização à covid-19 em ambientes de aglomeração de pessoas.
Questionado pela reportagem sobre o que supostamente havia ido fazer no gabinete de Nádia e se tinha discutido com ela a estratégia da manifestação, ele respondeu sem detalhar os seus passos na Câmara.
— Sobre a Comandante Nádia, tenho muita amizade e gratidão por ela. As imagens mostram claramente que ela tentou intervir durante a agressão. Gosto de comparar a Comandante Nádia à personagem Ellen Ripley, de Aliens - O Resgate. Sendo uma mulher forte, defendendo valores como a legítima defesa e a família mesmo cercada de seres asquerosos — disse Strzalkowski.
Já a parlamentar negou tê-lo recebido em seu gabinete.
— Márcio não foi no meu gabinete. Nem sabia que iria alguém no meu gabinete. Normalmente, quando alguém vai, eu tenho anotado na minha agenda. E, na minha agenda, não estava o nome dessa pessoa. Conheço ele, sei quem é, está sempre nas manifestações verde e amarelo no Parcão. Não tenho nenhuma discussão de estratégia de protesto contra o passaporte vacinal. As pessoas se manifestam por conta própria, diferente da esquerda, que planeja manifestações. Eu não tenho esse hábito e não houve planejamento nenhum — afirma Nádia.
Strzalkowski já é conhecido das manifestações da direita. Em 2017, foi detido e acusado de ter agredido um professor em ato do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa). Na eleição de 2020, Strzalkowski inscreveu-se para concorrer a vereador de Novo Hamburgo pelo Podemos, mas sua candidatura consta como indeferida no sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nas redes sociais, já apareceu em imagens portando armas de fogo.
Durante a sessão de quarta-feira, ele tinha um crachá pendurado ao pescoço e uma máquina filmadora. A confusão começou quando uma manifestante do grupo ergueu um cartaz que continha uma suástica nazista. Os vereadores de oposição e alguns governistas interpretaram como apologia ao nazismo. Já os manifestantes dizem ser uma crítica ao passaporte vacinal, o que para eles seria uma prática do nazismo. Parlamentares foram até as galerias e exigiram que o cartaz fosse entregue, os manifestantes resistiram e, em seguida, tiveram início as trocas de empurrões, trancos e sopapos. Imagens mostram agressões mútuas.
Militantes do PTB envolvidos
Outro envolvido na pancadaria foi o advogado Antonio Bertolin, que já foi indicado pelo PTB para ocupar cargo em comissão (CC) no Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae). Ele permaneceu na função entre agosto e outubro de 2021 e, conforme nota da prefeitura, foi exonerado porque supostamente “não cumpria suas atividades”.
A indicação de Bertolin foi do diretor-executivo do Procon Porto Alegre, Wambert Di Lorenzo (PTB), e da vereadora Tanise Sabino (PTB).
— Realmente, Antonio Bertolin foi uma indicação do PTB para trabalhar no Dmae. No entanto, foi exonerado no início do mês. Nós, do PTB, somos a favor da vacina, mas não da obrigatoriedade do passaporte vacinal. De acordo com os manifestantes, eles compararam a exigência do passaporte às práticas totalitárias do nazismo e ao cerceamento de liberdade. Entretanto, repudiamos qualquer tipo de manifestação que se utilize de agressão ou ato de violência. Dentro do PTB e do Movimento Conservador Cristão, levaremos em consideração o ocorrido e, por isso, já está previsto diálogo para a próxima pauta — diz a vereadora Tanise.
Acesso ao plenário
O vereador Idenir Cecchim (MDB) presidiu a sessão de quarta-feira porque o titular do cargo, Márcio Bins Ely (PDT), estava em compromisso externo. No sistema de rodízio, Cecchim será o presidente da Câmara em 2022. Ele afirmou que não irá “permitir que os brigões voltem ao plenário”. Cecchim disse que, finalizado o processo de identificação dos envolvidos, ele fará um requerimento, antes mesmo de assumir a presidência da Câmara, para encaminhar o veto de acesso dessas pessoas ao plenário.
Bins Ely já está de volta à presidência e afirma que, na semana que vem, deverá tomar uma “decisão coletiva”. Ele recebeu da bancada do PT um pedido de reunião para a manhã da próxima segunda-feira (25).
— Alguma atitude vamos ter de tomar. Realmente, o pessoal passou dos limites e, desse jeito, não há condição — avaliou Bins Ely.
PT chama ato de repúdio
A bancada do PT na Câmara de Vereadores está organizando um ato de repúdio aos fatos ocorridos na sessão de quarta-feira. A manifestação está marcada para às 13h30min da próxima segunda-feira (25), em frente ao Legislativo.
Em nota lançada nesta sexta-feira (22), a bancada do PT diz que os atos foram “premeditados” e tiveram suposto cunho de apologia ao nazismo e de discriminação racial.
O partido ainda pede ao prefeito Sebastião Melo o afastamento da vereadora Nádia da função de vice-líder do governo na Câmara e a demissão de Wambert da direção do Procon, ambos pelo suposto envolvimento com os manifestantes.