Um levantamento da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) feito a pedido de GaúchaZH identificou as cinco vias de Porto Alegre com maior registro de multas por pardais. Os dados levam em conta infrações computadas a partir de radares fixos entre os meses de janeiro e setembro de 2019, abrangendo um total de 273 dias.
O levantamento não considera as atuações via fiscalização manual, ou seja, com infrações flagradas pelos agentes da EPTC.
A via com o maior número de infrações por pardais é a Avenida Nonoai, próximo ao número 849, no bairro Nonoai, zona sul de Porto Alegre. No período contabilizado, foram 14.129 multas somente por uso indevido da faixa exclusiva para ônibus, o que representa uma média de 51 multas todos os dias. Além disso, outros 155 motoristas foram autuados por excesso de velocidade. Todas foram aferidas pelo radar fixo instalado na região.
No bairro Nonoai, moradores e trabalhadores constantemente alertam sobre o pardal e o risco de autuação por uso da faixa exclusiva. Além disso, há pelo menos duas placas de sinalização de fiscalização eletrônica na região.
O que mais angustia os motoristas na Avenida Nonoai é a saída de um posto de combustíveis, que fica na esquina com a rua Cachoeira. Ao abastecer os veículos, os condutores precisam obrigatoriamente passar pela faixa azul, e muitos são multados.
O trabalhador autônomo Edeli Cigaran, de 57 anos, é cliente do posto de combustíveis e foi surpreendido, no início deste ano, ao receber uma autuação por uso indevido da faixa exclusiva.
— Eu sempre espero saírem os carros. Eu andei uns 20 metros na faixa e fui multado. Eu nem recorri pra não me incomodar. Paguei a multa. Eu acho errado isso. Nesses postos próximo à faixa azul, tu já entra ou sai e é multado — disse ele, que já foi multado em outra região também pelo uso da faixa azul.
Comerciantes da região também reclamam do radar fixo. O proprietário de uma loja de equipamentos automotivos Rodrigo de Freitas Moreira, de 40 anos, alegou queda de clientes, prejuízo e até acidentes pelo temor dos motoristas em acessarem a loja pela faixa exclusiva.
— A EPTC jogou aqui uma faixa azul numa área de comércio. O cliente vem aqui para saber quais horários que multa. A gente diz que em alguns horários não multam. O pessoal tem medo de passar aqui. Eu tenho clientes que deixam o carro na esquina e vem aqui a pé para saber como entrar com o carro. Um senhor tentou entrar da faixa do meio para a loja e bateu em um ônibus — comentou.
A reportagem também visitou os outros locais com maior número de multas em Porto Alegre. Na avenida Ipiranga, próximo 8185, a faixa exclusiva de ônibus próxima à saída de um posto de combustíveis também é a vilã dos motoristas.
Em dois pontos da Avenida Cavalhada, próximo ao 4414 e ao 4530, os radares fixos também flagram constantemente veículos nas faixas exclusivas e controladores de velocidade. Já na Avenida Salvador França, na descida do viaduto São Jorge em direção à Avenida Ipiranga, o excesso de velocidade flagrado por agentes com radares móveis é a maior causa de multas.
Os cinco locais com mais multas em Porto Alegre:
- Avenida Nonoai, 849 - Bairro Nonoai
- Avenida Ipiranga, próximo ao nº 8185 - Bairro Partenon
- Av. Cavalhada, próximo ao nº 4414 - Bairro Cavalhada
- Av. Cavalhada, próximo ao nº 4530 - Bairro Cavalhada
- Rua. Dr. Salvador França, nº 201 - Bairro Jardim Botânico (radar estático, também conhecido como móvel)
EPTC diz que revisou, com vídeo, multas aplicadas na faixa azul da Av. Nonoai
O número expressivo de multas registrados pelo radar fixo da Avenida Nonoai chamou atenção das autoridades neste ano. Em abril deste ano, o vereador de Porto Alegre Wambert Di Lorenzo pediu revisão de autuações e alegou que a sinalização não estava adequada no local. A EPTC decidiu, então, revisar as multas aplicadas pela fiscalização eletrônica. Todas as infrações estão registradas em vídeo, segundo o órgão. Cerca de duas mil multas foram canceladas, mas o saldo total indica mais de 50 infrações cometidas por dia no local.
— Nós deixamos durante anos a Nonoai sem fiscalização eletrônica. (A faixa) Era muito desrespeitada. Resolvemos usar radares fixos para fiscalizar a rodovia. Se a pessoa quer ingressar na pista do meio naquele local, é necessário dar o pisca e demonstrar a intenção de trocar de faixa. Todos que fizeram isso tiveram as infrações baixadas (anuladas). Mas tem vídeos que a pessoa estava com a pista livre e mesmo assim seguiu pela faixa de ônibus — diz Fábio Berwanger, diretor-presidente da EPTC.
Além disso, a entidade informou que houve reforço de sinalização na Avenida Nonoai. O órgão destacou ainda que, nas novas faixas exclusivas, implantadas recentemente em pontos como a Rodoviária e a avenida Independência, não foi iniciada a aplicação de multas por fiscalização eletrônica. Berwanger destacou ainda que, quanto mais pessoas forem multadas, pior será para a EPTC, que quer evitar divergências entre motoristas e o transporte público.
— Eu quero corredor vazio. Cada vez que faço uma autuação, é um desgaste para mim. A pessoa é multada e fica contra o corredor de ônibus. Se pudermos fazer com consciência, com educação, é o ideal. É um conceito para a cidade. Esse grande desrespeito que o controlador eletrônico flagra nesses locais pode acabar deturpando esse conceito — frisou.