Referência internacional em causas que envolvem a defesa dos direitos humanos, o ativista gaúcho Jair Krischke contestou, em entrevista à Folha de S. Paulo, as declarações da secretária municipal de Desenvolvimento Social e Esporte, Nádia Gerhard, sobre o tratamento destinado aos moradores de rua de Porto Alegre.
No último sábado (11), Nádia disse que não admitiria “uma praça cheia de moradores de rua”. Nesta terça-feira (14), também à Folha, reafirmou que as pessoas em situação de rua "não podem ser impeditivo para outras pessoas desfrutarem o espaço público"e que terão os pertences recolhidos caso não queiram aderir aos programas oferecidos pela prefeitura. Segundo ela, a Constituição garante o direito de “ir e vir” e não o de “ficar”.
– Se esta pessoa que mora na rua não quiser aproveitar as várias oportunidades oferecidas, não pode ficar morando em praças, calçadas, pontes, embaixo de marquises, com colchões, armários, balcões, geladeiras etc. Pois são locais públicos onde as pessoas têm o direito de caminhar, de levar seus filhos em praças e parques, passear – afirmou Nádia.
Mas de acordo com Krischke, que é presidente do Movimento Justiça e Direitos Humanos (MJDG), a lei garante também o direito de "permanecer".
- Todo o brasileiro tem o direito constitucional de ir, vir e permanecer. Também tem direito de carregar os seus pertences pessoais. No caso do morador de rua, aqueles sacos onde levam toda a sua vida – declarou o ativista, em contraponto à secretaria.
Apesar da contestação, Krischke elogiou a iniciativa de custear o aluguel e sugeriu criação de mais vagas em albergues, propostos pela prefeitura.
Nádia tem dito que conta com R$ 1,8 milhão para custeio de aluguel e para pagar passagens de ônibus para que as pessoas em situação de rua possam retornar às cidades natais.
Segundo levantamento de 2016 realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a população de rua em Porto Alegre era de 2.115 pessoas.